Fiquei com a impressão de que, em “O Homem das Multidões”, a solidão dos personagens é muito mais conceitual do que real, o que a tornou menos interessante para mim, embora tenha acompanhado o filme com atenção.
Nos filmes em que Marcelo Gomes está envolvido ,a solidão é um aspecto sempre presente. Eu gosto mais “Cinema, Aspirinas e Urubus”, onde aqueles dois solitários, estranhos, diferentes entre si se encontram. Gosto muito de “Viajo porque Preciso”, mas é um filme diferente, epistolar, onde o princípio é que a paisagem oriente o filme.
Não gosto de “Eu Verônica”, que me pareceu um filme desencontrado. Ali há uma personagem sem eira nem beira, mas, com toda franqueza, também o filme me pareceu meio sem saber para onde ia. Trata-se, em todo caso, de uma solidão ruidosa, cheia de gente em volta, embora em todo caso bem solitária.
Por fim, esse “Homem das Multidões” trata de pessoas solitárias em um mundo hiper-habitado. Quanto mais gente em torno, maior a solidão.
Pode ser. Não me parece uma idéia propriamente original, a menos que me engane: a solidão no meio de todos. Ou a solidão na internet, como no caso da moça.
O procedimento de cerrar o quadro, torná-lo quadrado, me incomodou mais do que angustiou. Senti aquilo como um procedimento, nada mais. Temos a mania de inventar a roda. Tenho a impressão de que isso não leva a parte alguma.
No entanto, e sem prejuízo desses senões, assisti ao filme com interesse. Embora não veja o ator como um maquinista. Não é uma questão de aparência. A composição me parece um pouco postiça: ele não é nada senão a própria depressão.
A menina é mais complexa. A história do casamento é boa. A mão machucada pelo uso do teclado, idem. Há certa paixão da moça pelo homem, que anima o filme. Mas cpmo o cara é um muro fica o dito pelo não dito. No mais, aquela casa dela, toda arrumadinha, não combina com a solidão, com nada. Combina com o pai francês um tanto gagá que fica andando de um lado para outro.
Não entendi muito bem a festa de casamento: para uma completa solitária, eis uma festa de arromba.
Gostei muito da atriz. Não desgostei do ator, acho que o papel dela está mais bem acabado. Ele é mais vazio do que solitário.
Uma passagem rápida confirma, outra vez, que Jean-Claude Bernadet é um ator de primeira.