Como Noel, três palavras por despedida deste blog. Aqui escrevi com plena liberdade, sem que a Folha nunca dissesse o que dizer e o que não dizer, e só posso agradecer pelo convite e pela oportunidade de entrar em contato com leitores. Leitores, no caso, dispostos a ler essas coisas meio na contracorrente, discuti-las, para(…)
Por falar em vitalidade…
A vitalidade da China invade o cinema de Jia Zhang-ke. É assim em “As Montanhas se Separam”, seu novo filme. Um belo melodrama, diga-se. Mas não é tanto isso que me chama a atenção, quanto as imagens em que a beleza se confunde com aquela fuligem de poluição. A China quer progredir. Não faz muita(…)
O horror, o horror, Haddad
Não. Não o horror que vem de onde eu espero. O que vem do Haddad, que eu sempre achei um cara criativo e interessante. Ainda acho, mas… O que aconteceu com os moradores de rua de São Paulo, com a sua Guarda Metropolitana tirando os poucos pertences das pessoas e, no frio assombroso que tivemos,(…)
A Vitalidade Francesa
Só sei do que acontece hoje na França por vias indiretas, mas minha impressão mais recente era de um país cuja cultura me parecia esgotada. Mais nenhum Céline, nenhum Artaud, nenhum Lacan, nenhum Lévi-Strauss. Nenhum desses caras que poderíamos, pudemos chamar de mestres foi substituído com o mesmo vigor. Me parece, ao menos, e tirando(…)
Os dez mais da BBC
Christian Blauvelt tem a gentileza de me convidar para participar da enquete que a BBC está realizando mundialmente, em que busca estabelecer os 25 melhores filmes do século, até aqui. Tarefa ingrata: os críticos convidados não têm esse tempo de distanciamento que tanto coopera na compreensão do filme. Tanto mais que o contemporâneo é múltiplo.(…)
Valente em Brasília
Eduardo Valente foi um crítico notável, um dos fundadores da “Contracampo”. Depois foi um cineasta que chegou a fazer um curta-metragem exemplar e um longa nada deplorável. Mas o longa era tomado pelo superego, pela necessidade do crítico de se afirmar. Nada que o tempo não pudesse consertar. No entanto, Valente preferiu explorar outros caminhos(…)
A Rouanet como arma
Não sei a PF ou quem, mas alguém, consta, resolveu investigar os beneficiários da Lei Rouanet. Espero que não seja verdade. Ao mesmo tempo me pergunto se seria burrice ou vingança contra os artistas que andaram se manifestando a favor do governo deposto. Acho que é mais a característica burrice policial. Sem tortura, sabemos,(…)
A direita que faz rir
Em termos de espetáculo de TV, o governo Temer em duas semanas acumulou confusões farsescas. Descriou e recriou ministérios. Fez da mesóclise prova de sabedoria. Empossou um ministro da Educação que ouve conselhos de um ator de filmes pornográficos etc. Tudo isso faz rir, é verdade. Bem mais que os supostos humoristas a que se(…)
Entender a Lei Rouanet, essa flor do neoliberalismo
O mundo dá voltas. A maior parte das vezes inutilmente, mas dá. Não faz nem uma semana, direitistas obtusos sustentavam que você só pode apoiar a ideia de um governo eleito (o de Dilma Rousseff) chegar ao seu final caso seja beneficiário dele em algum nível. Que artistas contra o impeachment vivem às custas da(…)
Boris maio 1917 – maio 2016
Não me lembro de outra pessoa tão generosa com os jovens que éramos como Boris Schnaiderman. Ele falava de Maiakovski ou Malevich com quem vinha à sua casa como se estivesse, sei lá, com Augusto de Campos. Falava dos tesouros artísticos mantidos no subsolo do Ermitage pelos comunistas, que gostavam daquelas artes porcaria e não(…)