Inácio AraujoInácio Araujo http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br Cinema de Boca em Boca Mon, 27 Jun 2016 03:22:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Até Amanhã, Até Breve, Até Logo http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/27/ate-amanha-ate-breve-ate-logo/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/27/ate-amanha-ate-breve-ate-logo/#respond Mon, 27 Jun 2016 03:22:45 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=997 Como Noel, três palavras por despedida deste blog.

Aqui escrevi com plena liberdade, sem que a Folha nunca dissesse o que dizer e o que não dizer, e só posso agradecer pelo convite e pela oportunidade de entrar em contato com leitores.

Leitores, no caso, dispostos a ler essas coisas meio na contracorrente, discuti-las, para concordar ou discordar. Porque, afinal, dizia Antonin Artaud, a vida é colocar questões. Para si e para os amigos.

Razões que escapam ao nosso desejo forçam a interrupção do blog no final de junho.

O diabo é que gostei muito dessa experiência de escrever sem o formalismo que o jornal exige: meio à vontade, assim, bem conversa com amigos, às vezes metendo o bico em coisas de que só sei por ouvir falar (porque essa é, a rigor, a experiência de todos nós: não entender, no máximo tentar entender).

Espero ter cumprido a parte essencial da proposta, que era falar da Imagem, tal como se apresenta no cinema (sobretudo), mas também na TV, nas fotografias, nos outdoors.

Temo que não sejam muitas as pessoas que acompanham esses textos, mas se por acaso se interessarem por ler alguma intervenção minha, estarei num bloguinho amador, o

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Por falar em vitalidade… http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/24/por-falar-em-vitalidade/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/24/por-falar-em-vitalidade/#respond Fri, 24 Jun 2016 15:31:20 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=992 cena do filme As Montanhas se Separam de Jia Zhang-ke
cena do filme As Montanhas se Separam de Jia Zhang-ke

A vitalidade da China invade o cinema de Jia Zhang-ke.

É assim em “As Montanhas se Separam”, seu novo filme.

Um belo melodrama, diga-se.

Mas não é tanto isso que me chama a atenção, quanto as imagens em que a beleza se confunde com aquela fuligem de poluição.

A China quer progredir. Não faz muita questão, pelo jeito, do que acontece com o meio ambiente. E nem com seus habitantes.

É um trambolho neocapitalista gerado à moda comunista.

Temos ali dois amigos. Um será sempre mineiro nas minas de carvão. Talvez haja um quê de autodestruição amorosa aí, mas isso é outra história.

O outro, Jinsheng, é dotado de uma arrogância proporcional ao dinheiro que conseguiu (vira milionário).

Jinsheng dará ao filho o nome de Doele, corruptela de Dollar.

É bem o que me parece a ideia terrível que Jia projeta para o ano de 2025 (o filme começa em 1999/2000, a segunda fase é em 2014).

Dollar, o filho, vive na Austrália. É chinês mas só fala com o pai através de intérprete. É herdeiro de uma fortuna e não sabe o que fazer da vida.

Em suma, é um homem que deixou sua cultura original e não agregou nenhuma outra: o “homo neoliberalis” típico.É um ser perdido no tempo e no espaço.

É a primeira vez que vejo essa questão, a da relação entre desenraizamento e neoliberal tratado do ponto de vista estritamente cultural.

Ou seja, essas crianças que estamos criando (ou algumas delas, as que são o modelo, afinal), essas criadas para serem a elite, que nascem num lugar X, estudam em Y e produzem em Z.

Serão o quê? Ricos. “Good for you”. Mas mau, mau, mau para a civilização.

Me lembram esses jovens magnatas da web, que inventam uma coisa e ficam ricos e famosos.

São, certamente, pessoas inteligentes, mas.. E daí?

Vejo na TV um documentário sobre Leite Lopes e César Lattes. A ambição deles nunca foi enriquecer. Foi criar uma ciência forte no país.

E será que Einstein ou Max Planck ou Freud se preocupavam com isso, em transformar invenções em fortunas?

Fala sério. Não sou de ser saudosista, mas algo anda desregulado no mundo.

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O horror, o horror, Haddad http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/22/o-horror-o-horror-haddad/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/22/o-horror-o-horror-haddad/#respond Wed, 22 Jun 2016 23:00:18 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=989 Morador de rua na cidade de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Morador de rua na cidade de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Não. Não o horror que vem de onde eu espero.

O que vem do Haddad, que eu sempre achei um cara criativo e interessante.

Ainda acho, mas…

O que aconteceu com os moradores de rua de São Paulo, com a sua Guarda Metropolitana tirando os poucos pertences das pessoas e, no frio assombroso que tivemos, deixando as pessoas no chão é um episódio vergonhoso.

E vergonhoso, talvez ainda mais, foi ele “se explicar” sobre algo que tinha falado.

Não importa o que falou ou deixou de falar. Vamos imaginar que tenha sido um terrível mal entendido.

O mínimo dos mínimos que eu esperava era um pedido solene, completo, memorável, repleto, de desculpas ao lado de ações emergenciais o mais enérgicas do mundo para resgatar esses moradores.

Não pode isso partir de alguém que tem justamente lutado para tornar o paulista mais civilizado um pouco, o que é, claro, luta meio inglória. Mas parece que o prefeito anda se deixando contaminar por nossa barbárie.

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A Vitalidade Francesa http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/22/a-vitalidade-francesa/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/22/a-vitalidade-francesa/#respond Wed, 22 Jun 2016 18:13:14 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=986 cena do filme A Odisséia de Alice
cena do filme A Odisséia de Alice

Só sei do que acontece hoje na França por vias indiretas, mas minha impressão mais recente era de um país cuja cultura me parecia esgotada. Mais nenhum Céline, nenhum Artaud, nenhum Lacan, nenhum Lévi-Strauss. Nenhum desses caras que poderíamos, pudemos chamar de mestres foi substituído com o mesmo vigor. Me parece, ao menos, e tirando aqui e ali algum caso isolado.

O cinema chegou mais perto, com a Nouvelle Vague e seus arredores. Mas deles todos o único ainda vivo é Godard. Quem veio no lugar? Eu só vi força análoga em coisas do Olivier Assayas.

Mas a França funciona melhor, em todo caso, quando em bloco: movimentos, manifestos, polêmicas etc. Nada disso acontece há muito tempo.

Mas em poucas semanas pintaram dois filmes que me deixaram tremendamente animado. Não mobilizam aquelas grandes paixões de outros tempos porque hoje o mercado é ocupado, basicamente, pelos blockbusters e cada vez menos o Brasil acredita que o cinema seja uma arte.

Sobre O Valor de um Homem , que devemos a Stéphane Brizé, acho que já falei aqui. É um filme de abordagem direta, como se pretendesse tirar do caminho qualquer obstáculo entre o personagem e o espectador. Certas cenas (o constrangimento de pessoas que roubam supermercados e são apanhadas, por exemplo, ou o momento em que o protagonista, desempregado, tenta vender a casa) são exemplares e memoráveis justamente por isso.

Já “A Odisseia de Alice”, de Lucie Borleteau, segue estratégia exatamente oposta. É como se buscasse botar todos os obstáculos do mundo entre nós e a protagonista. Não que isso seja encher o filme de penduricalhos, longe disso, trata-se de nos aproximar lentamente, de forma estudada, do assunto.

Ali temos Alice, uma engenheira (se bem entendi) naval, trabalhando em um navio que a toda hora precisa de reparos. Minha primeira lembrança: o “Manpower” (Aquela Mulher) de Raoul Walsh, em que os caras ficavam recuperando linhas de eletricidade.

O Fidelio, navio onde ela trabalha, me lembrou “Anáguas a Bordo”. Também está mais para sucata do que outra coisa. Mas é preciso, entre explosões de caldeira, vazamentos e tudo mais tocar em frente.

O aspecto trabalho no mar é levado hawksianamente, ou seja, a sério. Mas o aspecto principal é outro: o desejo.

Desde o início nos perguntamos: como é que vai ser essa história, uma mulher no meio de uma tripulação masculina?

Bem, como é que vai ficar eu não conto, mas conto o seguinte: o centro do filme é o desejo. O caráter do desejo é caótico, ao mesmo tempo ele não pode ser negado.

Eis o que nos leva ao outro aspecto do filme: Alice é uma mulher da água, não da terra firme. Ela navega, e a água é instável.

Borleteau pinta, em seu primeiro filme, como uma diretora notável. A vitalidade de Alice é a mesma de seu filme.

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Os dez mais da BBC http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/20/os-dez-mais-da-bbc/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/20/os-dez-mais-da-bbc/#respond Mon, 20 Jun 2016 19:27:49 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=984 Christian Blauvelt tem a gentileza de me convidar para participar da enquete que a BBC está realizando mundialmente, em que busca estabelecer os 25 melhores filmes do século, até aqui.

Tarefa ingrata: os críticos convidados não têm esse tempo de distanciamento que tanto coopera na compreensão do filme.

Tanto mais que o contemporâneo é múltiplo.

Eis aí a minha escolha, que copio e colo. Acho que é desnecessário fazer as traduções. O caso mais lamentável é o de “Redacted”, que não entrou em cinemas no Brasil.

1. Eric Rohmer – L’Anglaise et Le Duc (The Lady and the Duke)
2.J.L. Godard – Adieu le Langage (2014)
3.Brian DePalma – Redacted (2007)
4.Clint Eastwood – Gran Torino (2008)
5.David Lynch – Mulholland Dr. (2001)
6.Abbas Kiarostami – Like Someone in Love (2012)
7.Manoel de Oliveira – O Estranho Caso de Angélica (2010)
8.David Cronenberg – A History of Violence (2005)
9.Sang-soo Hong – Hahaha (2010)
10.Olivier Assayas – Carlos (2010)

A classificação eu estabeleci porque é o convencionado pela BBC. Mas “A Inglesa e o Duque” me impressiona porque usa a tecnologia mais contemporânea e a cola ao cinema primitivo (ou primeiro cinema, tanto faz). As duas pontas do cinema, o séc. 19 e o 21 estão ali.

Mas, de cara, sem falar de tudo que devo ter esquecido, lembrei de

Lars von Trier – Dançando no Escuro (2000)
Almodóvar – A Pele que Habito (2011)
Lucrecia Martel – La Ciénaga/ O Pântano (2001)

Quem quiser me ajudar a lembrar de outros, sinta-se à vontade.

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Valente em Brasília http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/17/valente-em-brasilia/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/17/valente-em-brasilia/#respond Sat, 18 Jun 2016 02:54:46 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=982 Eduardo Valente foi um crítico notável, um dos fundadores da “Contracampo”. Depois foi um cineasta que chegou a fazer um curta-metragem exemplar e um longa nada deplorável.

Mas o longa era tomado pelo superego, pela necessidade do crítico de se afirmar. Nada que o tempo não pudesse consertar.

No entanto, Valente preferiu explorar outros caminhos e foi trabalhar na Ancine, na burocracia do cinema (ou, se se prefere, no subsolo).

Em suma, explorou o cinema de alto a baixo, sem preconceitos, metendo as caras.

Que melhor pessoa poderia assumir o Festival de Brasília agora, num momento nebuloso da produção brasileira?

Filmes de grande público não passam por lá.

Filmes experimentais se revelam em Tiradentes.

Brasília ficou num meio de caminho complicado, entre vanguarda e retrocesso, entre o tradicional desgastado e um novo que ainda não se firmou.

O festival precisa readquirir a importância, a centralidade que teve, encontrar-se com um público que, hoje, não sabe para onde vai, que é tocado por máquinas publicitárias.

O desafio é enorme, mas Eduardo Valente me parece o nome mais indicado para dar cara nova ao Festival.

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A Rouanet como arma http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/08/a-rouanet-como-arma/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/06/08/a-rouanet-como-arma/#respond Wed, 08 Jun 2016 18:39:03 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=975  

Cena do filme "O Encouraçado Potemkin" (1925)
Cena do filme “O Encouraçado Potemkin” (1925)

Não sei a PF ou quem, mas alguém, consta, resolveu investigar os beneficiários da Lei Rouanet.

Espero que não seja verdade.

Ao mesmo tempo me pergunto se seria burrice ou vingança contra os artistas que andaram se manifestando a favor do governo deposto.

Acho que é mais a característica burrice policial. Sem tortura, sabemos, os caras não pegam nem contrabando de enxoval em Cumbica.

Mas eu me pergunto qual a grande fraude que se possa fazer na Rouanet.

O cara apresenta um projeto e, se estiver tecnicamente correto, adquire o direito de levantar um X em dinheiro junto à iniciativa privada.

Qualquer panaca faz isso. Não precisa ser o Kafka, por exemplo, para conseguir editar um livro.

Qualquer porcaria serve. Diante da lei é um igual do Kafka…

Qualquer filme besta vale tanto quanto um Orson Welles perante a lei.

Quer dizer: o cara precisa ser muito burro para ganhar desonestamente um dinheiro (ou o direito de levantar um dinheiro) que pode ganhar honestamente…

Basta o aspecto técnico do projeto estar correto, o cara pode trazer uma orquestra (ou várias), um musical com Gene Kelly ou então montar um monólogo com um ator desconhecido.

Se existe algo a investigar é quem dá o dinheiro. Mas isso a Receita faz, certamente melhor que a polícia (por isso, aliás, um monte de gente não entra nessa de patrocinar projetos culturais via leis de incentivo). Ou então a PF teria que investigar a Receita Federal.

Em resumo, ou isso é coisa de maluco ou é feito para dar em nada.

Ou quase: na verdade é um recado da direita ao pessoal que se arvorou em tomar uma posição política diferente da dos democratas atualmente no poder.

Como naquele filme em que o DeNiro é um tira aposentado que fica aporrinhando o noivo da fillha, a ideia é: “eu estou de olho em você”.

Uma técnica de intimidação vulgar. Que a ditadura nunca usou, diga-se a bem da verdade.

Gente: estamos escada a baixo.

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A direita que faz rir http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/05/31/a-direita-que-faz-rir/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/05/31/a-direita-que-faz-rir/#respond Tue, 31 May 2016 13:00:42 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=967 Em termos de espetáculo de TV, o governo Temer em duas semanas acumulou confusões farsescas. Descriou e recriou ministérios. Fez da mesóclise prova de sabedoria. Empossou um ministro da Educação que ouve conselhos de um ator de filmes pornográficos etc.

Tudo isso faz rir, é verdade. Bem mais que os supostos humoristas a que se referiu José Trajano outro dia na ESPN.

Isso me fez lembrar “O Ato e o Fato”, velho livro de crônicas que o Cony produziu logo após o golpe de 64.

Havia muita trapalhada, também. Não tão analfabética como as de agora, mas relevantes.

O que quero dizer com isso é: ninguém se iluda imaginando que o atual governo é improvisado. Ele é longamente amadurecido. Teve mais de uma década para isso.

O poder não está agora com uma direita ilustrada ou suave. Nada disso. Pode não ter um projeto para o país, mas tem um projeto para si própria.

A gente nova está aí para desmontar a previdência, o SUS, a educação pública _quaisquer de seus atos públicos leva a isso (e um belo sintoma é o Alexandre Frota palpitando sobre educação; outro, os caras da Saúde que estão se demitindo em massa…).

Mas penso agora num ato pouco público.

Junto com a recriação do MinC saiu, como quem não quer nada, uma MP criando um órgão de Patrimônio Histórico que se sobrepõe ao IPHAN, ou seja, ao órgão do patrimônio histórico.

O que isso pode significar?

Para quem não desconfia, é o seguinte: o IPHAN zela pelo patrimônio histórico.

Patrimônio histórico é aquilo em que não se pode mexer. Ou seja, onde existe uma casa tombada não se pode, por exemplo, construir um prédio de 20 andares.

Deu pra sacar?

Não se trata de uma “gangue de ladrões” como acredita Chomsky. Antes fosse. Ladrões agem, honestamente, fora da lei. Correm os riscos atinentes a seus gestos.

O novo poder é diferente.

Sabe onde está o dinheiro e conhece os meios para chegar a ele legalmente.

Os prédios do Iphan estão ocupados em vários estados (não tive notícia de SP), embora pouco se tenha notícia disso.

É o que pode fazer quem sabe o que está em jogo, pois, como diria Busby Berkeley “the gang is all here”. Os caras estão com a mão na massa.

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Entender a Lei Rouanet, essa flor do neoliberalismo http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/05/30/entender-a-lei-rouanet-essa-flor-do-neoliberalismo/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/05/30/entender-a-lei-rouanet-essa-flor-do-neoliberalismo/#respond Tue, 31 May 2016 00:00:38 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=965 O mundo dá voltas. A maior parte das vezes inutilmente, mas dá.

Não faz nem uma semana, direitistas obtusos sustentavam que você só pode apoiar a ideia de um governo eleito (o de Dilma Rousseff) chegar ao seu final caso seja beneficiário dele em algum nível.

Que artistas contra o impeachment vivem às custas da Lei Rouanet.

Agora leio no UOL que Regina Duarte vai poder receber R$ 2 milhões da Lei Rouanet. Embaixo completa-se a informação dizendo que ela defendeu o fim do MinC.

As duas formulações servem para fomentar equívocos, e dessa matéria já estamos lotados. Em matéria de Rouanet basta dar uma olhada na Wikipedia, se não quiser ir mais longe, para saber do que se trata.

Primeiro, essa lei é uma flor do neoliberalismo. Propõe que, em vez do Estado financiar a cultura (e, portanto, escolher quem receberá dotações, subsídios ou lá o que seja), a tarefa caberá à sociedade (leia-se: à iniciativa privada).

Então, os acéfalos segundo quem “o nosso dinheiro” vai para eventos culturais de certa forma têm razão: trata-se de um dinheiro de renúncia fiscal do Estado. Quando o cara diz que recebeu dinheiro pela Lei Rouanet, “mas não dinheiro do Estado” ou não sabe o que fala ou fala de má-fé (nesse caso, convém apostar no segundo caso).

O fato é que a cultura tem de ser financiada de algum modo, embora para esses retardados o mundo seria bem melhor se não houvesse nem cultura, nem educação, nem ideias, nem qualquer outro desses inconvenientes que se interpõe à sua baba.

A aprovação de projetos pela Rouanet obedece a critérios técnicos. Exclusivamente. Se chega um filme para ser avaliado trata-se apenas de saber se o projeto postulante tem viabilidade técnica.

Ninguém dirá se o roteiro do Babenco é melhor ou pior que o do Kleber Mendonça e assim por diante.

Da mesma forma, não interessa minimamente se a Regina Duarte é contra ou a favor do MinC, do governo passado ou do futuro. Nada. Ninguém quer saber se ela é melhor ou pior que a Fernanda Montenegro ou mais simpática que o Fagundes ou algo assim.

Se o projeto é tecnicamente aceitável, ela terá o direito de levantar até R$ 2 milhões. Pode ser que levante menos, ou nada. Não importa.

Se a lei é boa ou não, certa ou errada, é outra história.

Mas para falar dela é bom saber minimamente do que se trata.

Pode ser que Regina Duarte ou qualquer outro venha a receber os tais 2 milhões do Estado (via renúncia fiscal). Pode ser que não. Eu posso amá-la ou odiá-la, conforme suas posições políticas. Mas não posso dizer que a autorização para captar pela Rouanet signifique algum tipo de privilégio por sua posição política (ou qualquer outra razão).

Bom, chega dessa conversa que é chata à beça, embora seja necessário tocar nela.

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Boris maio 1917 – maio 2016 http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/05/30/boris-maio-1917-maio-2016/ http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2016/05/30/boris-maio-1917-maio-2016/#respond Mon, 30 May 2016 18:42:38 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14037742.jpeg http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/?p=962  

Foto: Fernando Donasci/Agência O Globo
Foto: Fernando Donasci/Agência O Globo

Não me lembro de outra pessoa tão generosa com os jovens que éramos como Boris Schnaiderman.

Ele falava de Maiakovski ou Malevich com quem vinha à sua casa como se estivesse, sei lá, com Augusto de Campos.

Falava dos tesouros artísticos mantidos no subsolo do Ermitage pelos comunistas, que gostavam daquelas artes porcaria e não deixavam circular o melhor da Rússia – e sobretudo da própria URSS.

A gente ia lá por causa da Regina, a mulher dele, que na época era a psicanalista de, sei lá, quase todo mundo que eu conhecia.

E era o pai da Miriam, que também se tornou psicanalista, além de ter obra relevante como documentarista.

A Regina era mais exuberante, Boris mais discreto. Mas cada intervenção sua nos informava de maneira gentil, como se fingisse não saber que tratava com uma molecada curiosa.

Deixou três livros incompletos, disse Miriam durante o velório.

Que de algum modo terão de ser publicados: completados ou assim mesmo, o que for.

Boris Schnaiderman morreu aos 99 anos. Atravessou o XX com tudo a que tinha direito: emigração, guerra, vicissitudes, reconhecimento. Plenitude, enfim.

O Brasil tem sorte, aliás, de tê-lo tido como soldado. Enfim, alguém capaz de relatar com brilho e justeza o que aconteceu.

Há anos não falava com ele. O via entrando ou saindo, de tempos em tempos do shopping de Higienópolis. Não parecia ter idade. Parecia eterno. Talvez a impressão viesse de certa plenitude.

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