Eduardo Valente foi um crítico notável, um dos fundadores da “Contracampo”. Depois foi um cineasta que chegou a fazer um curta-metragem exemplar e um longa nada deplorável.
Mas o longa era tomado pelo superego, pela necessidade do crítico de se afirmar. Nada que o tempo não pudesse consertar.
No entanto, Valente preferiu explorar outros caminhos e foi trabalhar na Ancine, na burocracia do cinema (ou, se se prefere, no subsolo).
Em suma, explorou o cinema de alto a baixo, sem preconceitos, metendo as caras.
Que melhor pessoa poderia assumir o Festival de Brasília agora, num momento nebuloso da produção brasileira?
Filmes de grande público não passam por lá.
Filmes experimentais se revelam em Tiradentes.
Brasília ficou num meio de caminho complicado, entre vanguarda e retrocesso, entre o tradicional desgastado e um novo que ainda não se firmou.
O festival precisa readquirir a importância, a centralidade que teve, encontrar-se com um público que, hoje, não sabe para onde vai, que é tocado por máquinas publicitárias.
O desafio é enorme, mas Eduardo Valente me parece o nome mais indicado para dar cara nova ao Festival.