A Rouanet como arma

Por Inácio Araujo

 

Cena do filme "O Encouraçado Potemkin" (1925)
Cena do filme “O Encouraçado Potemkin” (1925)

Não sei a PF ou quem, mas alguém, consta, resolveu investigar os beneficiários da Lei Rouanet.

Espero que não seja verdade.

Ao mesmo tempo me pergunto se seria burrice ou vingança contra os artistas que andaram se manifestando a favor do governo deposto.

Acho que é mais a característica burrice policial. Sem tortura, sabemos, os caras não pegam nem contrabando de enxoval em Cumbica.

Mas eu me pergunto qual a grande fraude que se possa fazer na Rouanet.

O cara apresenta um projeto e, se estiver tecnicamente correto, adquire o direito de levantar um X em dinheiro junto à iniciativa privada.

Qualquer panaca faz isso. Não precisa ser o Kafka, por exemplo, para conseguir editar um livro.

Qualquer porcaria serve. Diante da lei é um igual do Kafka…

Qualquer filme besta vale tanto quanto um Orson Welles perante a lei.

Quer dizer: o cara precisa ser muito burro para ganhar desonestamente um dinheiro (ou o direito de levantar um dinheiro) que pode ganhar honestamente…

Basta o aspecto técnico do projeto estar correto, o cara pode trazer uma orquestra (ou várias), um musical com Gene Kelly ou então montar um monólogo com um ator desconhecido.

Se existe algo a investigar é quem dá o dinheiro. Mas isso a Receita faz, certamente melhor que a polícia (por isso, aliás, um monte de gente não entra nessa de patrocinar projetos culturais via leis de incentivo). Ou então a PF teria que investigar a Receita Federal.

Em resumo, ou isso é coisa de maluco ou é feito para dar em nada.

Ou quase: na verdade é um recado da direita ao pessoal que se arvorou em tomar uma posição política diferente da dos democratas atualmente no poder.

Como naquele filme em que o DeNiro é um tira aposentado que fica aporrinhando o noivo da fillha, a ideia é: “eu estou de olho em você”.

Uma técnica de intimidação vulgar. Que a ditadura nunca usou, diga-se a bem da verdade.

Gente: estamos escada a baixo.