Em termos de espetáculo de TV, o governo Temer em duas semanas acumulou confusões farsescas. Descriou e recriou ministérios. Fez da mesóclise prova de sabedoria. Empossou um ministro da Educação que ouve conselhos de um ator de filmes pornográficos etc.
Tudo isso faz rir, é verdade. Bem mais que os supostos humoristas a que se referiu José Trajano outro dia na ESPN.
Isso me fez lembrar “O Ato e o Fato”, velho livro de crônicas que o Cony produziu logo após o golpe de 64.
Havia muita trapalhada, também. Não tão analfabética como as de agora, mas relevantes.
O que quero dizer com isso é: ninguém se iluda imaginando que o atual governo é improvisado. Ele é longamente amadurecido. Teve mais de uma década para isso.
O poder não está agora com uma direita ilustrada ou suave. Nada disso. Pode não ter um projeto para o país, mas tem um projeto para si própria.
A gente nova está aí para desmontar a previdência, o SUS, a educação pública _quaisquer de seus atos públicos leva a isso (e um belo sintoma é o Alexandre Frota palpitando sobre educação; outro, os caras da Saúde que estão se demitindo em massa…).
Mas penso agora num ato pouco público.
Junto com a recriação do MinC saiu, como quem não quer nada, uma MP criando um órgão de Patrimônio Histórico que se sobrepõe ao IPHAN, ou seja, ao órgão do patrimônio histórico.
O que isso pode significar?
Para quem não desconfia, é o seguinte: o IPHAN zela pelo patrimônio histórico.
Patrimônio histórico é aquilo em que não se pode mexer. Ou seja, onde existe uma casa tombada não se pode, por exemplo, construir um prédio de 20 andares.
Deu pra sacar?
Não se trata de uma “gangue de ladrões” como acredita Chomsky. Antes fosse. Ladrões agem, honestamente, fora da lei. Correm os riscos atinentes a seus gestos.
O novo poder é diferente.
Sabe onde está o dinheiro e conhece os meios para chegar a ele legalmente.
Os prédios do Iphan estão ocupados em vários estados (não tive notícia de SP), embora pouco se tenha notícia disso.
É o que pode fazer quem sabe o que está em jogo, pois, como diria Busby Berkeley “the gang is all here”. Os caras estão com a mão na massa.