Remédio amargo

Por Inácio Araujo

Aah, fazia tempo que os repórteres de TV deixaram seu lugar comum preferido em repouso. Não sei nem mesmo como conseguiram sobreviver tanto tempo sem ele.

Mas ei-lo finalmente de volta, na pergunta de um repórter a algum novo ministro:

– Será preciso aplicar um remédio amargo!

E na pergunta já parece quase implorar ao ministro que, pelo amor de Deus, sim, diga que precisa de um remédio amargo, bem amargo…

Desses que caem como bomba na cabeça do populacho!

O ministro não repete a expressão tão esperada. Tão desejada.

Mas diz que vamos revisar os déficits, que são maiores que os anunciados pelo antigo governo (do qual o cara fazia parte até anteontem, por sinal). Portanto, vamos ter que tomar medidas emergenciais, etc.

Um sinal de bom senso do ministro: ao menos inventar maneiras novas de repetir o mesmo lugar comum: haverá “remédio amargo”, e o preço não será pago nem pelos congressistas nem pela plutocracia.

Na Globonews

Verdade seja dita, o Jornal das 10 ganhou uma nova alegria.

Anuncia-se uma devassa do antigo governo. Com outras palavras, mas a ideia é essa…

Por exemplo, o novo ministro da Educação e Cultura, que se bem me lembro vem para a cultura pelo ramo da avicultura, comandará a dele.

O Kassab nos informará sobre o que andava errado no setor de pesquisas científicas.

Que eles façam isso, tudo bem.

Mas o velho ímpeto, a indignação, cessou.

Agora temos como atitude jornalística a pura alegria.