Não é sinceridade o que falta a “Meu Amigo Hindu”. Talvez sobre, até. Hector Babenco não hesita em colocar ali o que parece julgar suas características negativas ou, em todo caso, aquilo que outros sentem como tal, a começar por um narcisismo que tem muito mais peso na trama de seu filme do que o próprio câncer e seu tratamento doloroso.
As biografias, as autobiografias ainda mais, tiveram no passado (talvez ainda tenham) o papel de revelarem seres exemplares de vários tipos. A atitude de Babenco, no entanto, é moderna. Ele não se põe como modelo para ninguém, como exemplo de nada. De força, talvez, na hora do tratamento. Pode ser. Mas isso é como resistir à tortura: não se ensina. Resiste-se ou não.
O problema que eu sinto não está aí. Se escolhesse um algum episódio para enfatizar envolvendo um segundo personagem poderia dar um centro mais forte à sua história. O câncer e seu tratamento podem ser terríveis, mas não são dramáticos.
Bem menos, por exemplo, do que a relação entre o cineasta e o irmão que lhe doa a medula para o transplante, ou entre o cineasta e a mãe etc.