Morre-se anonimamente no cinema. Não sei se existe associação, ou sindicato, ou facebook ou que mais, o certo é que em geral ficamos sabemos que as pessoas morreram por amigos ou parentes.
Recentemente foi o caso de Aloysio Raulino, de Ricardo Miranda. Mas preciso ir mais longe? Edward Freund, por exemplo, ou Oswaldo de Oliveira…
O que me espanta um pouco é que tais esquecimentos reflitam a pouca extensão dos estudos sobre cinema no Brasil: eles visam o abstrato e com muita frequência deixam escapar o que corre debaixo dos nossos narizes, a saber, as obras.
No caso de Nuno César Abreu, que morreu há alguns dias, é mais estranho, porque tinha passado da atividade em cinema à mais ilustre, em termos de aceitação social, de professor universitário (na Unicamp).
Mas foi o autor de “Corpo em Delito”, filme errado em inúmeros aspectos (mas começando por um ótimo personagem: um legista durante a ditadura) talvez a primeira pessoa a produzir um estudo sobre a produção da Boca do Lixo que não tivesse por fundamento central o preconceito em relação ao trabalho que ali se desenvolvia.
Entre outras, combate a ideia, tão difundida em determinado momento, de que esses filmes seriam bem aceitos pela ditadura.
Essa ideia foi bem popular em certo momento e, tenho a impressão, muito interessada. Mas não é o que vem ao caso. Agora a produção dita da Boca do Lixo começa a ser vista por outros ângulos, e tenho a impressão de que não seria justo esquecer a contribuição de Nuno César ao conhecimento dessa época, que ainda é um recalque profundo da nossa cinematografia.
No Oscar
E que dizer, aliás, do “esquecimento” pelo Oscar das mortes de dois expoentes como Manoel de Oliveira e Jacques Rivette?
Me parece que fala muito sobre o que o Oscar é hoje em dia.
.