Já falei das virtudes que vi no Béla Tarr de “O Cavalo de Turim”.
Agora, nem tudo são flores. Não sei o que aconteceu com o comunismo, com a famosa “educação socialista”, que acabou produzindo uns tipos místico-sorumbáticos como esses cineastas da ex-Cortina de Ferro.
Não sei, eu concebo um filme como algo que pode nos tornar melhores. Para Béla Tarr não há melhora: a perspectiva mais animadora é o fim dos tempos, que ele vislumbra aqui a partir de quem? De Nietzsche!
Para Nietzsche, Deus estava morto, e para suportar essa carga era preciso que nascesse o super-homem no lugar do homem (ao menos foi assim que entendi, mas sou meio tapado).
Bem, para Tarr quem está morto é o homem.
Seus dias invertem a criação. No sexto dia desfaz-se a luz.
No sétimo, Deus descansará de nós.
Como Béla Tarr, Lav Diaz gosta de filmes intermináveis.
O primeiro que vi dele é este “Do que Vem Antes” e me pareceu, ao contrário, bem terreno.
Também trabalha tempos longuíssimos e imagens fortes, mas a força me pareceu de outra natureza, ou de outra fonte: ela é bem terrena.
Ficamos horas vendo aqueles camponeses e suas vidas. Não digo que não é exaustivo, mas ao fim de certo tempo adquirimos uma familiaridade insuspeitada com aquelas pessoas, com um modo de vida que terminamos por partilhar inteiramente.
As imagens são ao mesmo tempo belas e despojadas. Referem-se muito à floresta. Um preto e branco tendente ao cinza, ao contrário do de Bela Tarr, que opta pelo contraste total.
Prefiro o filipino, em suma, embora o húngaro não seja a desprezar.