Os Vivos e os Mortos

Por Folha

Acho que todo mundo já disse quase o que se podia dizer sobre Peter Overbeck, que morreu outro dia em Israel, em um Kibutz, fiel a suas convicções políticas até onde foi possível ser.

Peter foi diretor de fotografia de alguns dos grandes filmes brasileiros modernos: “O Bandido da Luz Vermelha” e “Meu Nome É Tonho”. Sganzerla e Candeias. Mas também o belo “O Palácio dos Anjos”, de Walter Hugo Khouri, de que a gente falava mal na época por razões puramente ideológicas.

Passo por seu engajamento no MST, certamente respeitável, mas que desconheço a não ser pelo fato de ter fotografado “Terra para Rose”.

Não o conheci pessoalmente, mas ouvi falar muito de seu trabalho. Carlos Reichenbach costumava chamar a atenção para uma qualidade que ele próprio, Carlão, tinha de sobra (e exigia de sobra também): ele é um cara que embarca na viagem com você, que não busca o brilho próprio, que procura fazer tudo pelo filme.

Se precisava trabalhar com condições mínimas se virava. Se tinha condições melhores ia em frente do mesmo jeito.

É triste receber uma notícia de morte e mais ainda repassá-la (mesmo que com atraso). Mas vamos em frente.

O Século Nanni               

Desde que o conheci, Rodolfo Nanni sempre me pareceu muito elegante, muito gentleman para encarar a selva cinematográfica. Talvez por isso seja um cineasta de poucos filmes.

Publicou há não muito tempo suas memórias, chamadas “Quase Um Século”. E com todo jeito de chegar ao século.

Bem, aqui mesmo eu disse que Nanni lembrava de muita coisa, mas não as articulava de maneira tão forte quanto sugeria, porque sua experiência era muito especial, muito particular. Tanto importa o lugar geográfico que ocupou na infância (perto de Pinheiros) como as relações familiares (era parente do Brecheret, privou de um monte de modernistas, estudou com eles, pois também era artista plástico ou se encaminhou para isso).

Bem, só quero dizer que Chico Inácio, meu filho músico, insinuou que eu não percebi a riqueza toda do livro, o que informa sobre o que foi São Paulo, como vida intelectual, como paisagem e costumes, como lazer também.

Virou um livro de consulta frequente dele.

Faço o registro porque para ele, para a garotada, há certamente um teor informativo maior nisso do que para mim, que conheci não essa São Paulo do Nanni, mas uma um tanto mais aprazível.

Talvez fale dela quando chegar aos 90.