Waldo e eu nos conhecemos no primário. Analfabetos ainda. Ele era o xodó da diretora da Escola Primavera (e sua avó), dona Paula. Um dia falarei da adorável dona Paula. Depois, fizemos o ginásio no mesmo colégio. Aí nos reencontramos lá. Ele havia se tornado uma estrela, em pouco tempo, muito pouco tempo. Estava passando à publicidade, quando morreu, subitamente. Foi um choque! O mito é que só o pai dele sabia que ele tinha um aneurisma que poderia estourar a qualquer momento, pois era de nascença, mas guardou o segredo por toda a vida. Duvido um pouco da história, mas ela me fascina: se for verdade, o tamanho da dor do dr. Waldo, o pai, nesses anos todos, deve ter sido horrível.
E na reportagem havia ainda as meninas, a Marisa e a Claudia. Perdi de vista. Devo dizer que a Claudia era uma mulher absolutamente deslumbrante. Bem, quando teve os 75 anos da Folha, lá no Municipal, ou foi na Sala São Paulo, não lembro mais, houve vários religiosos falando, um de cada credo, e de repente aparece uma budista carismática falando coisas inesperadas e bem agudas. A horas tantas eu penso aqui comigo que existe algo de familiar nessa mulher. E pimba! Não deu outra. Ela a monja Coen.
Eu a encontrei depois na Fundação Japão, vimos um filme de samurai, mas não tive coragem de perguntar sobre a mudança (de identidade, sobretudo). Tenho a impressão, porém, de que a certas pessoas a vida promete muito, demais, e isso as atrapalha, e a Claudia voltou-se à busca de certa paz, que pelo visto achou bem achada.
Os copys, editores, subeditores: Sandro Vaia, Gilberto Mansur, Ricardo Setti, Castor, ah, o Miguel Jorge. Estranho, depois que eu saí, um dia soube que tinha subido a redator chefe do Estadão, saiu de lá, virou vice-presidente da Volks e, no fim, ministro do Desenvolvimento. Caramba! E eu continuo um João Ninguém.
A equipe de polícia era formidável: Percival de Souza, Inajar de Souza (sem parentesco), Valdir Sanchez, Fon. O Fon um dia foi preso, passou uns três meses desaparecido, prenderam a família toda primeiro. Parece que o problema maior era com o irmão. Eles eram uma mistura de vietnamita com baiano e segundo a lenda o Fon dormia com um revolver embaixo do travesseiro. Ele voltou uns três meses depois e, claro, ninguém comentou o assunto. Não se falava disso na época. Por que você foi preso? Isso era uma pergunta sem nenhum sentido. Era por subversão. Fosse ou não fosse você subversivo, guerrilheiro ou que nome se quisesse dar à coisa. Então não havia o que falar a respeito e nem ele falaria nada. Era um enxadrista.
Há mais gente e mais episódios.
Talvez volte ao dia da luta de Muhammad Ali na África com aquele outro lutador, que foi na casa do Marcão Faerman e da mulher dele (então mulher), a Marisa, uma psicanalista muito gentil.
Suspeito também que um pouco neurótica, mas isso é outra história.
E, sobretudo, o fato de que a gente entrava para o copy às 20h, mas em dias de futebol só começava a trabalhar depois dos jogos. É que os chefes todos eram mineiros e torcedores do Atlético, que na época tinha um timão.
O Marcão era do Sul, o Portella, de Pernambuco, havia uns paulistas também, claro, mas a base era de Minas. Não só a base como, sobretudo, o topo. Murilo, Ivan, Mitre etc.
Havia gente com quem convivi menos, que já eram célebres como jornalistas: Evaldo, Michel Laurence, Moises Rabinovich. Enfim, não estou falando de todo mundo, mas de quem eu conheci um pouco melhor.
Um dia espero falar do jeito moitado dos mineiros. Era o que prevalecia por lá, claro.
Um dia espero que alguém me conte se era verdadeira a história que corria sobre uma manchete assim: “Raio mata 4 paulistas na Mooca”.
Como sai uma manchete assim num jornal bem paulistano? Nada pode haver de anormal em um raio atingir quatro paulistas na Mooca, exceto se o fenômeno passar por uma sucessão de mineiros: o repórter, depois o copy desk, depois o editor, depois o secretário gráfico.
Juro que até hoje não sei se aconteceu ou se foi uma história ”bene trovata”.