A aula dos meninos

Por Inácio Araujo
foto: Marlene Bergamo
foto: Marlene Bergamo

Sim, como bem disse Alckmin num momento de rara lucidez, trata-se de uma greve política.

E contra uma política de governo.

Os meninos conseguiram o que se pode chamar uma vitória, que é brecar a reorganização das escolas.

Como já disse aqui (ou acho que disse, ou devia ter dito), não entendo patavina de como a educação deve ser organizada.

Sei, porém, que desde o MEC-Usaid as escolas públicas se tornaram um depósito de alunos pobres, escolas “para quem não pode pagar”.

É fácil equivocar-se sobre isso. O caro Rogério Gentile, por exemplo, imagina que a escola pública esvazia-se porque baixou a taxa de natalidade.

Será? Eu diria, empiricamente, sem nenhuma estatística à minha frente, que qualquer pai, tendo uma migalha de sobra no orçamento tira o filho da escola pública.

Ora, é espantoso. Na minha já remota juventude, quando se falava de um “professor de escola pública” era de boca cheia, era um professor a ser respeitável entre todos os seus pares.

Bem, nada disso hoje.

E os meninos estão mobilizados não porque sejam baderneiros ou mesmo matadores de aulas.

Eles querem um ensino público melhor.

Quem pode se opor a isso?

Essa é a grande lição que estão dando: não abrir mão de nada até conseguirem uma melhoria significativa da educação, porque essa é a chance que têm de conseguir cursar uma boa faculdade etc.

Eu sei que não é fácil, tem a crise, o orçamento do estado ,o diabo a quatro.

Mas tem aquela história que o pessoal da Bolsa vive falando: a crise é a melhor hora para investir.

Ninguém mais aguenta essas “grandes obras”, minhocões, estradas e congêneres.

A educação é prioridade total, junto com a saúde (mas esta acho que cabe mais ao governo federal). Então pau na máquina: melhorar as escolas, as bibliotecas, pagar bem os professores – tudo isso são urgências.

Assim como parar de bater em estudante…

Marília Pêra

Milton Nascimento na primeira cena que participa de "O Viajante", junto com Marília Pêra e Ricardo Graca Melo, em Uba-MG
Milton Nascimento na primeira cena que participa de “O Viajante”, junto com Marília Pêra e Ricardo Graca Melo, em Uba-MG

Nossas atrizes, nossos atores, com frequência são muito mal dirigidos.

Têm de se virar meio que sozinhos.

Acho que Marília Pêra, no cinema, com frequência sofreu com isso.

Mas quem tiver o prazer de ver ou rever “O Viajante” verá um desses momentos únicos, inesquecíveis, de atriz.

Estranho, mas o Saraceni tinha isso: fazia uns filmes excepcionais, trabalhava muito bem com seus atores, e a coisa passava em branco.

Outro caso é o de “Natal da Portela”, onde o Milton Gonçalves faz e acontece – e que também é ótimo filme (nem chegou a ser distribuído em São Paulo, tal o fracasso no Rio).