E faz isso o tempo todo no novo filme.
De certo modo, isso já vem do filme anterior: ele morria e renascia, não era assim?
Agora, “contra a Spectre”, a morte parece estar à espreita em cada canto.
Não o perigo habitual que corre James Bond e que nunca o atinge nem de raspão.
É sim, o perigo do desaparecimento.
Primeiro, na bela cena de abertura, no Dia dos Mortos mexicano. Ele se veste como uma caveira. Esse é seu disfarce.
Mais tarde, o programa 00 é extinto. Ele terá de enfrentar mortes dolorosas ou carregar consigo a morte em determinadas situações.
O segundo tema forte do filme é a família.
Primeiro há a perda de M, irreparável. E sua última mensagem (seu testamento).
Em seguida, James Bond como órfão, adotado por outra família.
Mais adiante, um grande inimigo surge que será também um familiar.
Existe a família da Lea Seydoux, por quem ele se apaixona (esse 007 vive se apaixonando, de preferência por francesas. Antes foi Eva Green). Ela vive sob ameaça por causa do pai, grande criminoso.
E assim seguimos, até porque existe a família 00, família meio metafórica, mas que, veremos, funciona.
Desta vez há um retorno discreto ao gadget, na pessoa de um relógio.
Por fim, há algo de mórbido na trama que não se deve propriamente a James Bond ou aos roteiristas. Mas uma boa parte do filme estamos às voltas com atentados e ameaças de atentados gigantes que lembram bem as mais recentes barbáries do Exército Islâmico.
No fim, um filme bom, quer dizer, que consegue dar uma sobrevida ao herói, graças a Sam Mendes ter lhe definido uma maneira própria de ser (não é um inteligente como Sean Connery, nem um esperto como Roger Moore; é, antes, um obstinado e um atleta _é um apaixonado, não um sensual: o primeiro 007, ao que me lembre, capaz de dizer a uma garota “volto já” e não aparecer nunca mais).
Há coisas muito fracas na trama, muito previsíveis. O vilão mesmo: são tantos que, no fim, nem Christoph Waltz se destaca nessa função.