Ainda não sei se Leonardo Padura fez o enterro do stalinismo ou realizou a vingança de Trotski, talvez até as duas coisas, em “O Homem que Amava os Cachorros”.
Mas estou certo de que é o sujeito certo para narrar esses momentos de glória e agonia do stalinismo, que foram os processos de Moscou, a guerra civil na Espanha, a perseguição e assassinato de Trotski.
Porque Stalin é um caso de literatura policial mais do que qualquer outra coisa.
Certos escritos de Trotski, por sinal, insistem bastante no caráter criminal do stalinismo.
Mas Trotski era levado pela esperança de ser lido, ouvido, acreditado.
A questão de Padura é outra. É entender como, durante tanto tempo, tantas pessoas acreditam na mistura de terror e propaganda produzia tanto no nível individual como no coletivo.
Não era uma crença qualquer. Era algo que tinha implicação nas decisões imediatas e de longo prazo da vida dessas pessoas.
Desde acreditar que tudo o que se dizia da URSS não passava de propaganda imperialista até aceitar que todos os colaboradores mais próximos de Lênin, durante a Revolução Russa, não passavam de traidores (daí a pergunta: se todos eram traidores por que teriam colaborado tão ativamente, por tantos anos de clandestinidade, com os ideais revolucionários?).
Tudo isso passa pelo corpo de Mercader, o homem que matou Trotski.
Mas tudo isso desemboca também no assunto que, no fim, mais importa a Padura, que é a Revolução Cubana e seu destino.
É também uma maneira de pregar a estaca no peito de Stalin.
Romance de escrita difícil, mas de leitura bem fácil.