Lembro quando o governo militar agonizava, pensava-se que, “ao se abrirem as gavetas” conheceríamos enfim as obras-primas censuradas pela ditadura.
Pois bem: abriram-se as gavetas e o que havia ali? Nada! Nada de especial, em todo caso.
Hoje quem brada são comediantes (sou tentado mais a vê-los como supostos comediantes) cuja desculpa para a falta de graça costuma ser o “politicamente correto”.
Pois bem, suprima-se o PC e o que teremos? Basicamente grosseria – que é o que já fazem hoje, diga-se de passagem.
Por isso o Porta dos Fundos destoa de forma tão óbvia dessa gente.
Não se trata de praticar “humor inteligente”.
Trata-se de partir do princípio de que quem está na posição de fornecer um produto que se assemelha à arte ou que almeja a ser arte tem no mínimo a obrigação de confiar no seu público e tentar dignificá-lo.
Trata-se de partilhar algum conhecimento, pela forma da experiência do mundo, e isso é o que esses humoristas fazem.
(Isso escrito depois de ler uma ótima entrevista de Ian SBF, diretor do grupo).