Nos ares

Por Inácio Araujo

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Eu mentiria se não dissesse que certas coisas me inquietam quando deixo o solo.

Por exemplo, saber que pilotos da Azul usam uma parte do manche para escrever mensagens de ódio dirigidas, pelo que entendi, ao dono da empresa.

Pode-se pensar num comportamento adolescente: como a rapaziada que escreve bobagem nos banheiros públicos.

Mas não é bem assim: quando pilotos de uma empresa aérea se manifestam dessa forma é porque não podem se manifestar de outra.

Existe aí uma tensão de que gente responsável pela vida dos outros devia estar liberada.

E o que isso sugere é, justamente, a existência de uma grande, enorme, profunda repressão interna, cujas formas não consigo imaginar, mas que são pesadas.

Na mesma notícia está que um piloto ganha qualquer coisa em torno de R$ 14 mil.

De minha parte, penso que o cara que responde pela vida de 100 pessoas, sem falar a dele próprio, devia ganhar muito mais.

Não é um mau salário, longe disso, mas um piloto de avião não devia estar pensando se terá dinheiro para pagar a prestação da casa própria, ou do carro, ou a escola do filho, essas coisas.

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Aliás, quem são os pilotos?

Em outros tempos a aviação divulgava a ideia de que eram caras que passavam por psicotestes ou coisa parecida a cada seis meses.

Pessoas tranquilas, praticamente sem inconsciente.

Muito bem: tudo isso foi desmentido quando aquele co-piloto suicida resolveu não só matar a si mesmo como a todos os ocupantes de um voo na Europa.

Em suma, ficamos sabendo que o estado psíquico de ocupantes da cadeira de piloto pode muito bem ser caótico.

E que não há exames semestrais coisíssima nenhuma, devo ser eu que imaginei isso.