A São Paulo de Person

Por Inácio Araujo

Se houve uma coisa surpreendente para mim nos últimos tempos foi o evento “Pauliceia Literária”.

Surpreendente porque, primeiro, meio inesperada. Havia, não sei se ainda há, feiras de livros, onde se vende com descontos, na USP, no CCSP. Mas não um evento como esse, que trará entre outros Leonardo Padura e Mia Couto.

Até onde entendi, trata-se de uma promoção da Associação dos Advogados de São Paulo, que também é a sede do evento: lá no centro, em frente ao CCBB praticamente. Quer dizer, não está ligado a associações de editores ou livreiros, quer dizer, o eventual incremento de vendas é secundário (não que seja indesejável, longe disso).

O fato é que lá fui eu, com Marina Person, para uma conversa que fechava o ciclo de cinema do evento (o ciclo na verdade foi um pré-evento).

São 50 anos de “São Paulo S.A.”, que me parece um filme fundador sobre a ideia moderna de São Paulo. Os dois filmes seminais sobre a cidade são o “S.A.” e “Grande Momento” de Roberto Santos.

“O Grande Momento” mostra uma cidade que terminava: afetiva, modesta, provinciana. O filme do Person toca em outros pontos: o anonimato, o crescimento, a indústria, a corrupção, o individualismo.

O filme tem essa capacidade impressionante que faz os clássicos: trata com precisão de seu momento, é um documento de certa forma insubstituível, mas seus ecos atravessam o tempo, porque o talento e a modernidade estão lá.

Claro, falou-se também de “O Caso dos Irmãos Naves” (mais) e “Cassy Jones” (menos). “Panca de Valente” só foi lembrado pela Marina como um filme de que o Person não gostava.

Mas o que mais me deixou feliz foi mesmo ver o surgimento de um evento dessa natureza, que inclusive aproxima cinema e literatura, e é no centro da cidade. Me parece que, para o futuro, os advogados devem fazer mais espalhafato em torno de sua “Paulicéia”, quer dizer: botar umas coisas na frente do prédio e tal, deixar o salão de entrada com mais cara de festa.

Digo isso porque a AASP fica num desses prediões da região bancária, lá na rua Álvares Penteado, e a gente chega e fica até com medo de entrar. É um tanto sisudo. Mas a iniciativa é uma dessas que me parecem bem bacanas.

(Seria interessante que, para o futuro, também combinassem as datas com o pessoal da Tarrafa, lá de Santos, pois as datas estão coincidindo).