Uma intoxicação, que talvez tenha sido uma virose, me tirou de circulação por uns dias, o bastante para eu ficar fora do debate dedicado ao belo documentário de Walter Salles a respeito de Jia Zhang-ke, que apreende a China através de um artista e o artista através de seu país. Ambos moventes e, de certa forma, fascinantes (pessoalmente, me fascina mais o cineasta do que a China e essa espécie de capitalismo autoritário que criou, mas, em todo caso, quem sou eu para julgar?).
Do outro debate só ouvi os ecos. Decorreu em Recife, onde Anna Muylaert foi abalroada por Claudio Assis e Lírio Ferreira que teriam inviabilizado o evento assim que chegaram.
Foi interpretado como machismo. Não sei. Pode ser machismo, regionalismo, inveja por estar outra pessoa em evidência.
O fato é que não vejo desculpa para esse tipo de cafajestice. E me parece ridículo, para não dizer coisa pior, tomar uma atitude dessas e depois sair pedindo desculpas, como se resolvesse alguma coisa, como se fizesse o tempo voltar.
Ah, me dizem: alguém protesta contra Lírio e Claudio terem tido exibições de seus filmes suspensas pela Fundação Joaquim Nabuco.
Protestam contra censura!
Com todo respeito, vão passear.
Agora deu de gente que nem tem ideia do que seja censura achar que qualquer coisa é censura.
E confundem a simples obrigação civilizada de respeitar o outro com privação do direito à dita livre expressão do pensamento…
Não entendo essa onda anticivilizatória que deu no Brasil (ou antes, entendo: tenho estudado a França de 1940: não é tão diferente assim), onde o desrespeito, a grosseria, o hábito de calar (e não tão eventualmente assim bater n) os que pensam de forma diferente tornou-se uma espécie de direito democrático.
A barbárie é um direito que se conquistará na luta, na barbarização, no cretinismo, nas redes sociais, nos hospitais onde médicos hostilizam pacientes…
Conquistem. Enquanto isso ninguém venha me aborrecer com essas besteiras.