Filhos de Frankenstein

Por Inácio Araujo

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Gêmeos univitelinos podem ser inquietantes: parece que vemos seres que se duplicam.

Os gêmeos de David Cronenberg, agora num belo DVD, cheio de extras (inclusive um sobre os efeitos especiais que permitiram a Jeremy Irons contracenar consigo mesmo), são, claro, ainda mais inquietantes.

Eles partem desse incômodo e, aliás, trabalham um monte sobre eles: qual dos dois é Bev e qual deles Elliot?Ficamos em dúvida no começo, às vezes essa dúvida retorna, já bem mais adiante.

Eles são mais que univitelinos, são como siameses: completam-se. Vivem juntos, clinicam juntos etc.

A tragédia que virá depois conhecemos (ou se não, vale a pena conhecer, sim).

Davic Cronenberg sempre me pareceu um cineasta muito intelectual, mas, acima de tudo, intuitivo. Ele percebe com antecipação certos fenômenos que estão no ar, por eclodir, como o caso da Aids (em Calafrios, de 1974).

É possível pensar em vários outros. O fantasma que o agita em “Gêmeos – Mórbida Semelhança” é, evidentemente, o da clonagem.

A hipótese inquietante de duplicação dos seres, de replicar exatamente o mesmo organismo, com os mesmos gens e tudo é absolutamente aterradora. E constitui, me parece, o centro deste filme.

A ciência e sua evolução têm sido uma obsessão do pensamento de Cronenberg. E a clonagem constitui uma espécie de renovação do mito de Frankenstein.

Há muito mais no filme, claro, a começar da paixão pela mutante (é em seu aparelho reprodutor que a mutação se dá).

Revisto hoje me parece já um clássico do século 20.