Desde o segundo “Superman”, desde o último “Batman” de Tim Burton, desde os primeiros “Homem-Aranha” eu não tinha, que me lembre, satisfação de ver filmes de super-herói.
Mas, enfim, “O Homem Formiga” se sai bem divertido, com alguns momentos mortos (não tempos fracos – é outra coisa), algumas intuições de cena interessantes e muito humor.
Vários pontos o diferenciam das sagas correntes, a começar que não enfrenta esses caras que querem acabar com o mundo e tal: temos ali um decente supervilão, honesto, um ressentido à maneira dos inimigos do Aranha.
Depois, ele não é jornalista, nem bom rapaz. É um assaltante, aliás bem talentoso, mas no geral fracassado.
Na ação que abre o filme, como mais tarde, terá a seu lado uma gangue de fracassados também.
E por aí vai.
Ele também não tem nenhum grande segredo a esconder, e sua transformação é quase risível: consiste em encolher enormemente e crescer de forma instantânea, na boa.
Mas enquanto ele ainda não domina o uniforme, quando se vê reduzido a nada, há cenas boas, como aquela em que ele, formiga, vai dar numa discoteca, com mil e duzentos saltos prontos a amassá-lo.
Essas situações paradoxais, em que o cara (ou a gente) poderia estar do outro lado são bem desenvolvidas, assim como um duelo entre dois mini-super-inimigos num trenzinho de brinquedo, como se fosse um duelo de faroeste.
Em suma, a intuição cênica está longe de ser ruim.
E, para completar, o filme é construído como a visão de uma menina, como a maneira como ela idealiza ou recupera a imagem paterna.
Um filme bem sonhado, enfim – o que tem sido dramaticamente raro.
(Claro, com um quê adocicado, mas em geral isso é cortado rapidamente)