Gerson Tavares e “Antes, o Verão”

Por Inácio Araujo

 

jardelnorma

A descoberta de Ouro Preto este ano foi Gerson Tavares.

Ou antes, foi a descoberta do Rafael Luna Freire, de um longo processo de restauro que deu em uma meia dúzia de belos documentários e no de “Antes, o Verão”.

É essa coisa da ideologia. Nos anos 1960, quando o filme foi feito, não era para gostar disso. Era de direita.

E talvez soasse assim mesmo: uma história de amor burguesa em plena ditadura?

Se a gente pegar o Khouri era mais preocupado socialmente. O filme do Gerson Tavares não está nem aí. O problema é o casamento do Jardel Filho com a Norma Bengell.

Mas é uma besteira, a ideologia. Naquele tempo todo filme quase era “social”. Então, um filme de puro amor, “universalista”, devia ser um respiro.

Acabou esquecido, embora fosse desses filmes de que não se pode falar mal.

Então essa redescoberta, agora, é muito saudável. Um belo filme, uma bela Norma Bengell, um Jardel admirável, como de costume.

Um trabalho belíssimo de restauro (by Francisco Moreira).

Mas é o seguinte: foram 10, 11 anos de trabalho. Vá lá que seja desde elaborar o projeto, aprovar etc. e tal.

É um tempo infinito. O restauro parece que ainda é a exceção.

Não sei como isso pode mudar. Talvez no dia em que isso seja um bem de valor. Em que se possa vender essas imagens. No caso: Cabo Frio, anos 60. Com direito a cavalos ao lado do posto de gasolina.

Na Europa e nos EUA restaura-se hoje loucamente. Me parece que é uma empreitada cultural, educacional e comercial.

O principal é, acho, o comercial.

Mas não só. Perceber que as imagens que o Brasil produz são o Brasil, o constituem, seria um belo avanço. Temo que estejamos longe de perceber isso.