Gostei de Sangue Azul mais do que imaginava que gostaria.
E o que mais me impressionou é que, por pouco, poderia muito bem ser um filme alienado, um desses filmes fora do mundo.
Mas existe ali um encontro de mitologias muito interessante: há o circo, um circo irreal, que não é o mambembe habitual, nem o Cirque du Soleil ou similar. Há a ilha, nunca nomeada como Fernando de Noronha, mas um lugar no oceano, entre o Brasil e a África, se estou bem lembrado.
Depois há as lendas do circo (Pereio) e as do mar (Ruy Guerra). Os dois em si personagens lendários.
A história da gaivota, que tira os peixes da água por sua capacidade de mergulhar rapidamente, mas acaba sendo cegada pelo sal do mar, achei belíssima.
Claro, existe ainda o incesto… A tragédia.
E me chamou a atenção que o herói se chama Zolah, como Émile Zola, que viu no operário um sujeito de tragédia (disse Jean Renoir, na abertura da Besta Humana, se estou bem lembrado).
É uma tragédia entre pescadores e circenses, o amor entre o irmão do ar e a irmã do mar. Mas o sangue é azul.
Como de costume, as imagens de Mauro Pinheiro Jr. são muito fortes.
E como de costume os tempos de Mair Tavares são únicos, caem como luva em bons filmes.
Ah, e o elenco, não dá para destacar ninguém. Me pareceu que estavam todos bem, não me lembro de quem destoasse.
Resumindo, me parece o momento mais completo de Lirio Ferreira como diretor.