(Para falar como deputados e congêneres).
Encontro João Luiz Vieira feliz e transtornado.
Feliz, porque está mergulhado nos arquivos da Atlântida e da Norma Bengell, adquiridos pela Cinemateca Brasileira em 2008.
Transtornado porque o trabalho é uma espécie de auditoria externa a respeito da compra.
Trata-se de explicar o que são os arquivos e justificar o preço da aquisição.
Como dar um preço à memória? – pergunta. – Se são vinte quilos de soja é fácil dizer qual é o preço. Mas qual o preço de preservar as imagens da Cacilda Becker, do Oscarito? Como atribuir valor a isso?
O problema central é que o relatório não é nem para o MinC, é para a Controladoria da República.
Quem ler isso saberá, digamos, quem é Fada Santoro ou Alinor Azevedo?
Sabe o que é um negativo que avinagra?
É um problema. O menor deles, talvez.
Disse que João Luiz estava feliz e transtornado.
Acho que dá para acrescentar amargurado.
Se bem estou lembrado do que disse, à parte material de papel (não só fotos, como relatórios, roteiros anotados, bilheterias etc.) estão lá 3/4 do que a Atlântida produziu.
Mas 2/4 lhe pareceu talvez perdido, irrecuperável (o material filmado).
Então restaria ali 1/4 da produção Atlântida, desde sua fundação.
Mas, diz ele, se a questão não se resolver com a maior urgência mesmo esse 1/4 tende a se estragar em pouco tempo.
Não é que precisaria começar hoje.
É que isso já devia estar em andamento. Há muito.
O X do Problema
O X do Problema, para citar Noel Rosa, é que a preservação tem de ser tratada com um cuidado absurdo.
E a Cinemateca Brasileira é, em definitivo, um órgão que precisa se abrir ao mundo. Se abrir mesmo.
É claro, temos Bresser Pereira, temos Lygia Fagundes Telles como as “figuras públicas” que podem defender a causa da Atlântida (e do Arquivo Norma Bengell e de quantos outros vierem a existir e que possam ser adquiridos).
Mas por que não alguém que é da cultura, que valoriza essas coisas, mas que ao mesmo tempo é um jurista, saberia defender uma causa dessas com força? Estou pensando, neste momento, em Celso Lafer.
Aliás, ele está na Academia junto com a Lygia. E com o Zuenir Ventura, também. A Academia não serviria para fazer certo barulho em torno disso? (Se não serve, para que serve?).
E se pode pensar em outros juristas, como José Carlos Dias. Ou economistas como João Sayad.
Penso em pessoas que não políticas (não diretamente), não têm esse tipo de compromisso, não são ligadas à produção de cinema ou mesmo à preservação.
Mas é preciso contar com pessoas capazes de compreender esse tipo de problema.
Esse nó de Controladoria precisa ser desatado. Não é possível.
Os caras roubam um monte de tudo quanto é lugar, de dia falta água, de noite falta luz, mas na hora de proteger as imagens é esse drama…