As Abelhas

Por Inácio Araujo

Apenas uma impressão retrospectiva sobre “Entre Abelhas”.

Sim, acho o título uma complicação. Ele se explica, no filme, porque o protagonista, meio perdido, em dado momento menciona o mundo das abelhas, onde cada elemento tem sua função predefinida, o que torna a vida da colmeia bem mais simples.

É uma coisa dita meio de passagem, mas, dado o título, suponho que seja importante para os autores do filme.

Então, penso, o roteiro poderia incluir algo sobre uma estranha obsessão por abelhas que afetava o protagonista antes mesmo de sua separação.
Aliás, podia ser até um bom motivo para a mulher lhe dar um pé.

Mas preciso mudar de filme: há coisas interessantes, brasileiras sobretudo, rolando por aí.

A Verdade de Cada Um grande-a-verdade

Esse é o livro que a Cosac está lançando em conjunto com o É Tudo Verdade, ou seja, com Amir Labaki, seu organizador.

Quem se interessa, ainda que vagamente, pelo documentário não pode deixar passar batido esse livro, de jeito nenhum.

Acho que todo mundo importante que fez documentário e falou a respeito está lá, de Flaherty a Coutinho, de Grierson a Jean Rouch, de Chris Marker a Jia Zhangke.

Enfim, cito alguns nomes apenas, para não ser exaustivo. O livro é. No bom sentido, digo.

quermesse

Quermesse e Quase um Século

Apenas em alguns casos.

Também não sei julgar a poesia erótica do Sylvio Back, que vejo ser elogiada por pessoas que entendem do assunto, como Décio Pignatari.

Pois bem: conheço o Sylvio há muito tempo, acho que tem um cinema bem austero.

Daí a surpresa com sua poesia fescenina, sacana, safada, bem livre, por vezes agressiva, na tradição, aliás, da literatura erótica. Acho que para quem é chegado ao gênero pode ser uma bela surpresa.

Quase um Século são as memórias de Rodolfo Nanni. O autor de “O Saci” tem muito o que recordar, inclusive o fato de privar, já na juventude, de expoentes do modernismo paulista, como Brecheret, que era seu primo.

nannicapa

Não fica nisso. Mas, para mim, fica a impressão de que ele devia ter chamado alguém para escrever com ele.

Explico: sinto falta de um eixo a unificar as lembranças para que elas se convertam efetivamente em memórias.

Mas temos ali a elegância de Nanni integral, e seu quase século evoca uma São Paulo (ou partes consideráveis dela) que não raro nem chegamos a imaginar.