Não pensei que fosse possível gostar de dois filmes de caras novos, do Rio, vindo em sequência. Mas aconteceu, que bom!
Primeiro foi o “Casa Grande”, de que já falei aqui.
Agora, “Entre Abelhas”, que me parece um empreendimento tão interessante quanto arriscado.
Já disse aqui que acho o Fabio Porchat um ator de comédia talentoso. Sobretudo o aspecto verbal e facial tenho a impressão de que ele domina muito bem. A mímica corporal talvez seja mais fraca. Talvez ele a coloque em surdina para que o restante sobressaia.
Não importa.
Importa: Entre Abelhas é um título ruim para um filme lançado com uma pilha de cópias. Parece documentário sobre apicultura…
Há um risco grande no fato de o filme ser uma metáfora da depressão. Mas isso é que é bacana: fazer cinema sem riscos, fazer idiotices como “O Candidato Honesto”… qual a graça?
A depressão, pós separação de um casal, consiste em o personagem começar a deixar de ver pessoas. É uma inversão da cena clássica de “O Homem Invisível”. Os outros é que se tornam invisíveis para ele.
Eis uma proposta dramática tratada em tom de comédia. Não pode? O Hawks fez isso a vida inteira (ou o inverso) e deu muito certo. Por que não poderia dar certo aqui?
Claro, não se ri às gargalhadas, mas no Jacques Tati também não. Nem por isso o Tati deixa de ser o Tati.
Claro, não é um filme perfeito. Acho formidável a Irene Ravache como mãe do protagonista: com ela por perto o Porchat cresce, inclusive.
Acho a escolha da garota que faz o papel da mulher dele muito errada. Ao contrário: quando estão juntos, o protagonista parece menos interessante.
A direção tem um problema: como o diretor vem da internet, parece confiar muito mais nos planos fechados do que nos planos americanos, que são os melhores para a comédia (está perto do ator, mas não lhe tira a mobilidade).
Não ter os vícios habituais de quem vem da TV (da Globo em especial) já é uma virtude enorme, em todo caso.
A propósito: ouço que o diretor de “Casa Grande”, Fellipe Barbosa, já está convidado para ir para a Globo. O mais provável, caso aconteça, é que se dê bem e faça o que Luciano Salce chamava de “sucesso prostitucional”. Para o cinema, uma pena.
O Último Coutinho
Não é nenhuma surpresa, mas o “Últimas Conversas” é precioso. Mas me parece que João Salles e Jordana Berg acrescentaram coisas que não eram para estar lá. Por exemplo, a entrevista dele que abre o filme.
É extraordinária. Talvez o que há de melhor no filme.
Já a entrevista com a menininha penso que é uma bobagem. Por mais que Coutinho reclamasse de seus adolescentes, eles têm densidade, drama, têm o que dizer.
Se é difícil arrancar deles o que ele arrancou, não sei. Mas vieram coisas muito bonitas.
A garotinha, claro, tem a densidade de uma criancinha. Não esconde nada, mas o que não esconde é, evidente, ralo.
Até por essas surpresas e contrastes, até por, na minha opinião, desdizer o Coutinho, um filme memorável, independente de ser o lamentavelmente, tristemente filme final desse grande cineasta, dessa grande e adorável pessoa.