Cinemateca outra vez

Por Inácio Araujo

Outro dia falei da Cinemateca Brasileira . Não era bem da Cinemateca. Mas o que pegou foi a Cinemateca.

Lisandro Nogueira, que foi diretor da entidade (ele diz que o nome é coordenador, não faz grande diferença), escreveu dizendo que não produziu nem deixou nenhum bordel na CB. E que pessoas escreveram para ele como se eu tivesse dito isso.

Está mal lido: não entrei no mérito de nenhum diretor.

A questão foi a seguinte: a administração Marta Suplicy tirou de lá o Carlos Magalhães, por volta de janeiro de 2013 (lembro porque estava em Tiradentes, começo do ano).

Lisandro Nogueira só começou a dirigir a entidade em novembro daquele ano.

Ou seja: por quase um ano a CB ficou com Olga Futema como diretora interina, mas numa situação fragilíssima, com a antiga direção acusada de mundos e fundos, investigações etc.

Esse ano de interinidade frágil, com o pessoal do cinema enlouquecido, com acervo imobilizado, sem dinheiro para funcionários, filmes talvez se estragando… Isso foi o que chamei de belo bordel.

O Lisandro Nogueira diz que ele ficou um ano por lá para começar a ordenar as coisas. Para impedir que parasse. Eu sei de outros trabalhos dele: é muito competente.

Mas Cinemateca não é mole. Ele também diz que a atual programação (para a qual tentei chamar a atenção) foi planejada em seu período. Faz sentido, também: ele manifestou preocupação em fazer a programação da CB funcionar.

Por fim, ele esclarece que o estacionamento (eu dissera que podia muito bem usar o estacionamento para visitantes, pago inclusive) não pode ser usado nessa escala por razões técnicas (ameaçaria o acervo, que fica por perto).

Bem, o que eu disse a ele: quem falou que ele, Lisandro Nogueira, criou um bordel na CB ou está de má fé ou não leu o post, ou não sabe ler.

O que eu disse: quando você substitui um administrador é preciso que tenha outro engatilhado.

Não entro no mérito da substituição, desconheço os detalhes. Mas desde o início pensei que diretor de uma instituição desse tipo deve ficar por tempo limitado (4 anos, 6 anos, sei lá). Um tempo indeterminado gera ou desejo de continuidade em quem está lá ou frustração em quem não está. Ou ambos.

Apenas isso.

Então vamos parar de fofocaiada.

A programação

Pois é: a programação da Cinemateca anda ótima. Agora com um ciclo da Marguerite Duras.

Uma resposta

O leitor Felipe Munhoz discorda de quase tudo que escrevi no post anterior e manda um email nesse sentido. É claro que eu também não concordo com ele, mas o ponto de vista me parece pertinente, de maneira que segue carta, a seguir:

Caro senhor Inácio Araújo,

Concordo com o senhor em muitos pontos a respeito da desprezível indicação da então senadora Marta Suplicy ao MinC, tento visto o período em que ocorrera tal indicação, ou seja, a eleição municipal e o apoio que Haddad necessitava para se tornar prefeito de São Paulo. Sabemos que tal manobra, longe de ser exclusividade do PT, corresponde a espúria política nacional de “troca de favores” (leia-se cargos) que se espraiam em todos os segmentos políticos institucionais.

No entanto, discordo veementemente de algumas de suas sugestões para mudanças na Cinemateca Brasileira em São Paulo. E se assim o senhor tem liberdade de expô-las em mídia destinada ao público, sinto-me no direito de respondê-la.

Discordo em absoluto do fato de que se necessite cobrar bilhetes. O senhor mesmo deve saber que não serão 6 reais de cada pessoa (uns 20 por sessão) que financiará restauros de filmes, nem mesmo um um curta por ano se faz com tal quantia.
E veja, poucas coisas relacionadas à cultura, com verdadeira qualidade estética, têm espaço e, além de tudo, gratuidade. Prefere-se entupir o povo com porcarias sertanejas e axés mil em concertos que custam a verba da Cinemateca de meses. Cobrar entrada seria afastar alguns dos vários visitantes mais assíduos, que eventualmente não tem – mesmo – nem seis reais para pagar pelo bilhete.
E esse negócio de ingresso para afastar mendigo é absurdo e impróprio.

Tampouco se a esta vultuosa quantia dos sugeridos ingressos adicionássemos o valor do igualmente sugerido estacionamento. Mesmo com essa fortuna, nada poderia ser feito em termos de restauração ou melhorias – imagino que nem trocar as lâmpadas led da fachada do prédio o dinheiro daria.

Discordo também desta sugestão, tipicamente paulistana, de que é preciso ter estacionamento. Olha, falta água mas não falta estacionamento em São Paulo. Do lado de fora nem é tão ermo assim que não se possa deixar a latinha automotiva sem medo de assaltos. Talvez o senhor não esteja acostumado a andar em ruas realmente ermas e perigosas, por isso a falsa impressão.
Aliás, nem estacionamento, nem ponte aérea ou similares até a cinemateca faz-se preciso. O metrô não é tão longe assim que não se possa ir andando. E se não consegues percorrer cinco ou seis quadras de ruas tranquilas, é porque o corpo já está morto ou não se é cocho. (ou apenas paulistano convicto, que a despeito de tudo e todos, adora um carrinho)

A lanchonete nem é tão ruim assim. O único problema é que é caríssima.
Não se vai ao cinema para se alimentar, vai-se pelos filmes. Se tens fome, vá as bares e restaurantes bem próximos dali.
Café, água, coxinha e empadinha está de bom tamanho. E ademais, não há volume considerável de pessoas que torne defasada a pequena e amigável lanchonete.

Ah! E se as salas chamam “Petrobrás”, “BNDS”, e daí? São nomes que eu tampouco gosto, mesmo assim é quase detalhe frente as outras tantas coisas que se poderia dizer a respeito de melhorias. Pense assim, pelo menos não chamam “Médici”, “Geisel”, “Maluf”, etc.

E cá entre nós, votar no Maluf por causa de uma senhora esnobe que lhe enche os pacovas por pura birra, é assim como assumir que teve hemorroida. Isto é, quem teve não conta jamais.

Atenciosamente,

Felipe Munhoz