Voltas que o mundo dá

Por Inácio Araujo

 

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Falar a verdade: não acho cara de pau a Marta Suplicy cair fora do PT. Ela não sai porque o PT está por baixo.

Cara de pau é ela se apresentar como a dama das virtudes perdidas. Ela não caiu fora porque o PT perdeu seus ideais. Caiu fora porque quer ser prefeita de SP outra vez, seja por quais ideais forem: ela irá buscá-los nos achados e perdidos, se preciso, contanto que lhe deem a legenda.

Eu vi ela sendo vaiada, xingada, escorraçada, atropelada por uma tropa de caras bonitinhas, com camisas azuis de camiseiro chic, na Gabriel Monteiro da Silva, num colégio de freiras onde ela votava.

Já vi coisa muito mais distinta em casa de cômodos.

Agora essa gente a recebe de braços abertos, pois assim é a política. A velha Martaxa virou santa Marta, cheia de virtudes. Relaxa e goza, pois não?

Tudo bem. Mas a passagem dela pelo MinC foi o que podemos chamar de catástrofe. Para o cinema, com certeza. Para outras áreas, não sei.

Há que fazer uma pesquisa, ver o que diziam os jornais sobre outras áreas. Agora haverá os que se desdigam, lembrem que não foi bem assim, que ela era até legal e tal.

Uma coisa eu digo: quando a Erundina era candidata, na véspera da eleição, no bar de um hotel perto do antigo Estadão, um monte de pessoas quase suplicam para eu votar na Erundina, porque senão ia eleger acho que o Maluf e patati-patatá.

E quem mais se empenhava nisso era a Marta. E eu pensava com os meus botões. Prefiro o Maluf. Eu podia até votar na Erundina, mas com essa máquina de arrogância me assediando nada feito. Voto no outro, já não me lembro quem era.

Depois veio o MinC. E no primeiro dia ela promoveu um bordel na Cinemateca. Tirou o cara que estava lá, não botou ninguém no lugar. Deixou aquilo na tanga por séculos, botando sempre a culpa em não sei quem… Caramba! Se você não quer o diretor, bota outro. Ela podia. Em vez disso, criou o maior bordel.

Depois, o CTAv. Tinha a Filme Cultura. Os antigos números, do tempo do INC, foram digitalizados. Novos números foram concebidos.

Aí, ela cortou as verbas. Acho que o corpo do Gustavo Dahl ainda estava no velório e ela já tinha mandado a Filme Cultura para o cemitério.

E, para provar que não era falta de verba coisa nenhuma, tirou as velhas edições do ar, as que tinham sido digitalizadas. Qual a economia? Uns 40 centavos. Qual o prejuízo? Qualquer um que se interessa por cinema pode contar.

A Cinemateca
Dito isso, é preciso dizer que a Cinemateca está com uma boa programação.

Na tanga em que está, acontece que está fazendo bons ciclos, tirando o pó do acervo e colocando as coisas pra circular. Tem o dedo do Ismail aí? Bom, sei que nos últimos tempos ele se matava para a coisa não acabar. Não sei quem está na direção agora, mas está animador.

Seria bom, no entanto, tomar algumas providências, agora que suas dependências não estão apenas ocupadas por fantasmas:

1. A lanchonete, que era boa, agora virou um monstrengo todo bonito, só que não funciona. Você quer comer um salgado, um sanduíche, um café… Não tem. O próximo, por favor.

2. Para quem não tem carro chegar lá é um suplício: será que não dava para tentar descolar com o prefeito uma navette entre o metrô e a sede, por exemplo?

3. E para quem vai de carro: custava abrir aquele estacionamento lá dentro? Você para o carro na porta e é aquele deserto. Lá dentro tem um belo e inútil estacionamento. Se explorasse aquilo, cobrando um tanto não extorsivo, seria bom para a instituição e bom para os frequentadores.

4. E por falar em dinheiro: dá bem para cobrar um pouco pelas sessões. Quatro reais, seis reais? Sempre é uma ajuda.

No mais, vai bem: a projeção é mais que boa na sala principal. A outra sala quebra o galho.

Os nomes é que são um saco. Tudo vendido. Nenhuma sala Rudá de Andrade. Ou Farkas. Só nome de patrocinador.

Com a grana de estacionamento podiam bem reativar alguma publicação, restaurar algum filme (que não seja por patrocínio), reunir grupos de interessados…

Não é mole nada disso, mas acho que a Cinemateca tem que ir atrás do tempo perdido. Quando era hora de exibir os filmes, não exibia por uma razão ou outra (fora no tempo do Calil, verdade seja dita). Agora qualquer um encontra quase todos os filmes na internet, na locadora.

Vai voltar essa de ver filme na tela grande e tal, assim como voltou o vinil.

O mundo dá voltas. Mas essa volta da Marta querendo ser prefeita… Não conte comigo.