Caixas de Pandora

Por Inácio Araujo

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As caixas são, aparentemente, uma bela solução para o crítico mercado de DVDs hoje em dia. Dirigem-se sobretudo aos colecionadores e têm preços mais razoáveis do que caso os discos fossem comprados individualmente.

Recebe-se, assim, uma série de quatro ou seis filmes, ou sejam quantos forem, de um gênero ou época apreciados pelo comprador.

Há pouco saíram as caixas de Ficção Científica e Zumbis, da Versátil. Nos dois casos, são puxadas por uma obra-prima. “Eles Vivem”, de John Carpenter, no primeiro caso, e “A Noite dos Mortos-Vivos”, de George Romero, no segundo.

O que vem depois varia de filmes absolutamente bem-sucedidos, ou esquecidos, ou pelo menos curiosos, como “O Planeta dos Vampiros”, em que a ficção científica encontra um tema clássico do horror pelas mãos de Mario Bava. E com Norma Bengell no principal papel feminino.

Ah, ia esquecendo: há ainda uma caixa “Obras-Primas do Terror 2”, onde os italianos aparecem com mais destaque: Bava e Dario Argento são os nomes mais conhecidos, mas ainda há um filme de Michele Soavi (“Pelo Amor e Pela Morte”), que ainda não vi, mas o Carlão tinha o Soavi como um cineasta de primeiríssima linha (admito que nunca me convenceu disso, mas ele sabia o que dizia, de maneira que sempre vale a pena conferir).

Essa caixa ainda traz outra obra-prima de Romero: “Martin”.

O mais relevante, para mim, é que finalmente vai se criando uma culturas dos extras, onde eles valem a pena. Não como produtos publicitários, mas informativos. Caso, por exemplo de uma bela entrevista de Carpenter sobre “Eles Vivem”, onde fala entre outras do caráter político de seu filme e de sua atualidade política (eu diria que, revisto hoje, o filme me parece francamente subversivo, pelo tanto que se opõe à linguagem única).

E a Lume?

A Lume é uma bela história. Quando começou, achei que terminaria como tantas outras: bons filmes e pouca venda. Mas, não: ela parou porque o Frederico Machado decidiu investir em sua carreira como diretor.

No que faz muito bem, porque é talentoso. Em todo caso: acabei de comprar “O Espírito da Colmeia”, que é aquele filme espantoso do Victor Erice, e “Cidade das Ilusões”, que eu tenho na conta do melhor John Huston. Não sou muito hustoniano, mas o filme é belíssimo, e parece existir para a música de Kris Kristofferson (que não é ator no filme, mas compositor e intérprete).

Voltando à Lume. Isso é raspa do belo acervo. Mas é compensado pela atividade do Machado como diretor.

Embora, devo admitir, tenha me entendido melhor com seu primeiro filme. “O Signo das Tetas”, de título horrível, este seu novo trabalho, me pareceu excessivamente abstrato, meio fora do meio rural maranhense. Acho interessante esse olhar, que não reduz o personagem à sua mera existência física, dotando-o da devida existência psíquica. Desta vez me pareceu, no entanto, que o personagem é meio que extirpado do meio – o meio existe apenas como pano de fundo, o que limita também o olhar.

O filme confirma, no entanto, que estamos diante de um diretor de cinema invulgar.