A Internet e eu

Por Inácio Araujo

A Internet, eu…

A internet trouxe coisas muito boas. O Wase, por exemplo, é muito bom para driblar o tráfego, na medida em que isso é possível.

Mas essa formidável revolução não me parece tão animadora em uma série de pontos. Um deles é a indústria de boatos. Eles existem aos montes. Em todo caso, tenho a impressão de que eles se desmoralizarão a si mesmos. É verdade que levarão junto as notícias reais, carregadas pela incredulidade geral diante de qualquer coisa que nos seja dita.

Os inconvenientes também existem, e os críticos cinematográficos são prova disso.

Outro dia, uma senhora escreveu para o Guia da Folha esculhambando o Alpendre. Tudo bem, diga o que quiser. Mas ao final ela nos esclarecia de suas razões: sua filha é uma crítica de cinema e tem um ótimo blog.

Ok. Nossos filhos são sempre formidáveis, nem se pode discutir sobre isso.

Nesses dias leio na Vejinha uma leitora, blogueira, naturalmente, que foi assistir “Mapas para as Estrelas” e diz que, fora a Julianne Moore, não viu nada de bem no filme.

Ok. De novo, cada um pode achar e perder o que bem quiser.

Mas, se você escreve um blog e arrasa um filme porque “não viu nada de bom”, convém especificar um pouco o que pode ser bom ou não. O que sabe da obra pregressa do cineasta, que não é qualquer um. O que pode nos dizer de mutações, de Hollywood, da sociedade em geral, sem falar, claro, do horror, do cinema, do contemporâneo, do incesto etc.

Não estou pensando, claro, nos inúmeros blogs escritos por profissionais ou mesmo por pessoas que não recebem por isso mas o fazem com propósito. Meu problema é com essa coisa de que, tendo língua, pode-se falar qualquer coisa.

A telefonia… e os loucos…
Há coisas estranhas também no mundo da telefonia móvel (por sinal que o Wase diz respeito tanto a isso quanto à internet).

Quando eu era criança, quem falava sozinho era o louco do bairro, que passava de tempos em tempos.

Hoje há um monte de gente que eu vejo falando na rua. Sozinhas. No primeiro momento penso, ainda, que são loucas. Logo percebo que estão falando ao celular, com dispositivos de escuta que dispensam a necessidade de ter o telefone colado ao ouvido.

Então, as coisas mudam e por vezes nos pegam desprevenidos.

Eu entendo isso.

Mas isso de qualquer um ficar postando a sua opinião tola não serve para nada, exceto para alimentar essa conversa mole de que interatividade é uma beleza, e que essa é a verdade final da nossa existência.

Sem essa.

Não sou eu quem vai dizer como o Dostoievski deve encaminhar sua história, como o Balzac vai terminar a sua, ou mesmo que destino Philip Roth vai dar a qualquer um de seus personagens. Vou ler os livros para entrar em contato com o que eles pensaram ou viram, não para impor minha visãozinha.

E a crítica, de novo…

Porque a crítica, justamente, não é questão de dizer que “eu não vi nada”, ela é, ao contrário, a tentativa de compreender o outro, de trazê-lo a si.