Educação e Cultura

Por Inácio Araujo

Renato Janine Ribeiro é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheci na vida. Mas, ao contrário de outras, não tem nada de fechado sobre as próprias ideias, nem de dogmático. É muito firme, porém suave, sempre aberto ao outro, mas não bobo.

Sigo um pouco seus artigos recentes, em que os temas políticos são muito presentes, mas sempre passando ao largo das coisas imediatistas.

Suas ideias sobre educação e cultura são ótimas. Por exemplo, a crença de que a educação não pode ser um processo meramente coercitivo, de que deve existir um prazer no conhecimento, é muito saudável. Aliás, é o que os pedagogos tentam há muito implantar, mas fracassam porque o “não coercitivo” acaba confundido com flacidez na instrução.

Se existe uma pessoa capaz de aproximar a educação do prazer é ele. Acho que não conseguirá, claro, porque vai é ficar preso a um monte de papéis, obrigações idiotas, cobranças sem sentido, ou da imprensa ou da presidente, essas coisas. E também as questões imediatas da educação, que não são poucas.

Agora, é claro, educação e cultura não podem ser coisas dissociadas.

Hoje existe um MinC que, fundamentalmente, está lá para atender a demandas corporativas. Que não são, aliás, injustas: os artistas precisam viver e produzir arte.

Mas a disseminação da arte, a percepção de que ler um livro ou ver um filme são aspectos da vida tão importantes quanto obter capacitação profissional. Ou antes, até mais importantes… Isso não é fácil, mas seria grandioso.

Por exemplo: um cirurgião que seja capaz de escrever ou de se dar o prazer de ver filmes… Bem, essa pessoa se enriquecerá. Não que se torne melhor no uso dos equipamentos específicos, mas na compreensão do mundo, dos outros homens, dos pacientes, de si mesmo… São coisas fundamentais e que aqui ficou muito tempo de lado em favor de uma cultura da especialidade.

Ora, isso que a Unicamp teve há muitos anos, isso de ter um curso universitário básico, em que possamos aprender de tudo, desenvolver a curiosidade geral… Seria formidável. Por que um engenheiro não pode mais ter uma visão geral do mundo, só tem que saber como deixar a ponte de pé?

Enfim, torço muito para as coisas andarem bem, porque não é fácil, porque tenho a impressão de que houve avanços nos últimos anos( Enem, Enade etc.), mas não suficientes: para essas coisas darem certo será preciso que um dia conhecimento e prazer se encontrem. Que cultura e educação se completem, sem que o ensino se torne uma coisa complacente.

Para isso seria preciso uma reforma completa não só da educação como dos educadores.

Veremos.