Não será apenas por ironia que Robert Pattinson interpreta o chofer de limusine que conduz Mia Wasikovska em Mapas para as Estrelas.
No filme anterior de David Cronenberg ele era, afinal, o jovem magnata que controlava os negócios e o mundo sem sair de sua limusine.
Agora, reduzido a simples chofer (o que não fazem a crise, a instabilidade dos mercados?), ele torna-se um simples comparsa no mundo das estrelas.
Pode parecer um filme anti-Hollywood. Com efeito, é. Mas não apenas. Estamos no universo das celebridades, de que Hollywood é, afinal, o paradigma. Ou pode-se pensar num universo do não ser.
Ser celebridade equivale a não ser, a abandonar-se para virar pura imagem. Fantasmas sem corpos a lhes dar sustentação.
É o que somos hoje: quem não é celebridade quer ser. Quem é precisar continuar a ser: caso contrário torna-se nada.
Cronenberg, que no século passado tanto falou de nossas mutações, de transformações em que a ciência tinha um papel relevante, agora parece ter concluído que a mutação está feita.
Já existe uma nova humanidade, destituída de corpos, feita exclusivamente de reflexos. Eis o que vem fazer Mia Wasikovska na cidade das estrelas, na Meca do cinema, no país das miragens: destruir essa anomalia.
Que não é Hollywood, mas que Hollywood representa acima de tudo. Não é isso, afinal, que está implicado no “Birdman” que ganhou o Oscar? Não temos ali uma celebridade tentando tornar-se ator de verdade?
Ou, mais genericamente, tentando tornar-se verdade?
Não será por acaso, certamente, que “Birdman” ganhou o Oscar e “Mapas” nem chegou perto.
Ou que Julianne Moore ganhou o Oscar num papel mil vezes inferior ao que faz em “Mapas”.
Nem acaso, nem coincidência. Nem mesmo ironia.
Hollywood sabe que é este mundo.
Não o mundo das estrelas tradicional, o que vai até pelo menos a metade do século passado, quando as estrelas do cinema refletiam a alma das pessoas comuns, nos representavam.
Hoje, não representam nada. São o que são: célebres.