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Por Inácio Araujo

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Não há nada mais terrível do que acidentes aéreos. Podem as estatísticas dizer que é o meio de transporte mais seguro e tal: a morte de 150 pessoas nos comove e assusta muito mais do que de 1500 que morram esparsamente em desastres de automóveis, por exemplo.

Tenho a impressão de que algo na aviação nos remete a Prometeu. Na infância, trabalhava em casa uma senhora muito boa, Antonia, e ela dizia sempre que nunca viajaria de avião, porque se Deus quisesse que voássemos nos teria feito com asas.

Sempre que um avião levanta voo está se afirmando contra Deus. Essa é a beleza de “Only Angels Have Wings”, o filme que lamentavelmente foi denominado “Paraíso Infernal” por aqui. O certo seria, claro, trabalhar na literalidade: Só os Anjos Têm Asas.

Mas pagamos caro por esse desafio. Há os que morrem, os demais ficam com os pesadelos.

Os pilotos de “Only Angels”, quando morria um colega, o enterravam e tratavam de esquecê-lo, caso contrário não poderiam mais subir num avião (e os aviões deles… caramba, eram uns calhambeques diabólicos).

No fundo, nós fazemos a mesma coisa. À força de se tornarem banais, as viagens aéreas já não assustam. No entanto, sim, desafiamos os deuses e nos afirmamos como homens em cada uma delas. De tempos em tempos os deuses castigam.