Há uma guerra em que os norte-americanos estão, senão perdendo, ao menos na berlinda. É a guerra midiática levada pelo Estado Islâmico.
As mortes do Charlie Hebdo, as decapitações em território ocupado, tudo isso tem por objetivo final a exposição, o espetáculo.
Espetáculo de horror, que, como se sabe, é como qualquer outro, obedece aos mesmos princípios: quanto mais impressionante, mais eficaz.
Quem se lembra do 11 de Setembro de 2001? Aquilo saiu de um filme de Hollywood.
Desde então entramos na era Marvel. Acabaram-se as invasões do mundo.
Mas Capitão América e todos os outros não detêm as imagens: o atoleiro americano está em “American Sniper”.
Não é uma questão de força, mas de como olhar o mundo.
Ou de olhar o mundo a partir de outro ponto que não o próprio umbigo.
Houve um momento em que, com entusiasmo, todo mundo queria tirar fora o cara da Síria.
Até se darem conta de que os poéticos “rebeldes” tão decantados pela Globo não eram bem quem nós pensávamos. Então todo mundo esqueceu o cara da Síria.
E a Líbia foi mais ou menos a mesma coisa.
E o Iraque, que dizer dessa intervenção? O Clint é que mede seu fracasso: você pode matar 200 iraquianos. E daí?
O Estado Islâmico sabe que um filme se faz de uma morte apenas. Que milhares de mortes não nos comovem. Mas a morte do cara que aprendemos a admirar e tal é um evento.
Assim acontece por lá: são jornalistas, agentes humanitários, pilotos profissionais… É de pessoas que merecem nossa admiração que eles cortam a cabeça.
Eles viram muitos filmes e sabem como fazer um filme.
O espetáculo que Hollywood nos oferece é de fraca política. A Casa Branca precisa rever os “Jogos do Poder” de Mike Nichols.