De vez em quando um ataque acontece no Oscar e a pessoa desata a falar. Este ano foi aquele polonês que ganhou o prêmio de filme estrangeiro por “Ida”. Começou modesto, depois o tom foi crescendo, e já tinha falado um monte quando começou a agradecer à família. De modo que, quando resolveu colocar a Polônia no meio, a orquestra já tocava em altos brados, mas ele não parava, tomado por uma onde patriótica, que quase o leva a cantar o hino nacional lá no palco, o que não aconteceu, acho, porque no fim ele foi retirado de lá não pelos apresentadores, mas, imagino, por uns seguranças disfarçados de apresentadores e tal.
São essas cenas que fazem o encanto do Oscar. Bem feito por terem dado o prêmio a “Ida”. Não foi o lobby judaico, nem menos ainda o lobby polonês. Acho que foi o lobby do preto e branco que levou a votarem no filme. De uns tempos a essa parte, tudo que é preto e branco soa como mais artístico aos olhos hollywoodianos.
Mas não sejamos injustos, o filme tem uma grande personagem, que é Wanda, a vermelha, a tia de Ida. Judia, resistente, depois juíza no regime comunista e finalmente desiludida, ela percorre todo o ciclo da Europa e de seu país com uma dignidade fabulosa.
Ida, propriamente, é um vazio. Seu interesse, aliás, vem desse vazio, desse ser levada de cá para lá, de uma religião a outra. Não é tanto assim. Wanda é mais interessante.
O vencedor
Toda vez que o apresentador começa a insistir nas gags sobre determinado filme é porque ele é, disparado, o futuro vencedor. Foi o que aconteceu desta vez, entre outras com aquela aparição ridícula do apresentador de cueca, como que refazendo uma cena do “Birdman”.
Digo sempre que me interesso pouco pelo Oscar, o que é uma mentira. Bem intencionada, mas mentira.
Gosto de prêmios assim, que chamam a atenção para os filmes, para o cinema, que mobilizam os espectadores. Antes pudessem os festivais terem o mesmo papel no Brasil.
Mas quando filmes como “Birdman” ganham, me parece que têm um efeito deseducativo e levam uma parte do público a pensar que o melhor cinema se confunda com esse amontoado de firulas, com essa ficção de terceira, com truques insignificantes, com aquela grande angular distorcendo a perspectiva e o rosto dos atores. Enfim, tudo aquilo me parece um horror.
Mas, pelo menos, entre os indicados, desta vez havia coisas desde razoáveis até filmes realmente memoráveis. O do Clint, entre os americanos, o “Timbuktu” entre os estrangeiros.
Vamos para 2016.