Timbuktu – É o melhor de todos. Quase plano a plano tem uma beleza e uma suavidade que nem por isso ocultam a situação dramática de um lugar ocupado pelo Estado Islâmico (é isso? Estado?). Entre os estrangeiros, Leviatã é ok, mas está muito inflado pela questão política. Do que mais gosto: das paisagens, da ossada, dos atores (ator russo é bom pra burro, impressionante).
Sniper – Lembro o que Jean Douchet disse de “Sargento York”, mais ou menos com essas palavras: “É um caipira, religioso, pacifista, transformado em uma máquina de matar. É a essência da América.” Eis Chris Kyle, com a diferença de que não tem o humor de York (ao menos não como é visto pelo filme). Clint Eastwood trabalha no fio da navalha. Pega um herói americano para mostrar o quanto é vazia a ideia de heroísmo; pega um soldado exemplar para mostrar, pouco a pouco, o pantanal em que se afundam os EUA no Oriente Médio.
A Teoria de Tudo e O Jogo da Imitação – Dois cientistas, dois filmes bem resolvidos, tendo de dar conta de histórias complexas, e dando. A Teoria de Tudo é sobre Stephen Hawking, os buracos negros, o Big Bang. Quer dizer, passa por isso e, claro, por sua doença. Mas é sobretudo cenas de um casamento. Composição extraordinária do ator. A atriz é uma graça. Momentos cafonas são perdoáveis.
Se Hawking é visto como gênio boa praça, que não faz da genialidade um ponto, que não se deixa torturar nem pela doença, Alan Turing é o torturado em pessoa. E também arrogante. Mas não é esse o ponto: é um cara que resolve um tremendo enigma construindo uma máquina. Na verdade, tudo existe em função de um fantasma: do rapaz que ele amava na adolescência e que morreu muito jovem. A ele Turing dedicará seu gênio, seu trabalho, sua máquina, tudo. A homossexualidade, a hipótese de praticar espionagem, tudo isso torna as coisas bem complicadas e bem resolvidas.
Whiplash é fraco, apenas um pouco melhor, mais maníaco, mais arriscado que Selma, que é quase um telefilme.
Grande Hotel Budapeste – Wes Anderson parece prisioneiro de si mesmo. Toda vez faz o mesmo filme.
Boyhood – queria que me explicassem o que há de interessante ali. Quando eu dormi, o cara ainda era um menino e tudo muito desinteressante. Quando acordei estava na adolescência e tudo continuava na platitude. Um projeto de dez anos? E daí? Quase amador? Parabéns, mas eu não tenho nada com isso.
Birdman = O favorito. É indecente. O “Cisne Negro” do ano, ainda mais afetado talvez, se é que isso é possível.
Foxcatcher – Belo filme: a história gerando demência. Um tema bem europeu, transposto com força para os EUA. Bela direção de Bennett Miller, mas não vai ganhar. Vão dar para um qualquer, ao menos é a tendência.
Eddie Redmayne – Detesto composições de doenças deformantes etc. e tal. Quer dizer, acho uma chantagem, um modo de se impor ao Oscar. Mas o que esse cara faz como composição de Stephen Hawking é genial. Steve Carrell está muito muito bem em Foxcatcher, mas o inglês é um arraso. Problema: Michael Keaton no Birdman é o alterego de toda a categoria de atores e atrizes de Hollywood. Considerando o que há de narcisismo nisso, acho que o prêmio não escapa dele.
Julianne Moore – concorre e deve ganhar pela professora com Alzheimer de Para Sempre Alice, que é um filme bem didático e nada mais. Claro, ela está mil vezes mais interessante em Mapas para as Estrelas, mas filme do Cronenberg não passa nem na porta do Oscar. Se passasse, aquela menina com nome polonês, Mia Wasikowska, estava em qualquer lista: é espetacular. Aliás, o filme do Cronenberg também.
Marion Cotillard – Ela faz o filme dos Dardenne, que tem um ponto interessante (a desagregação das relações pessoais na crise europeia), mas que chega lá de bengala. Os americanos adoram a Cottilard, mas acho que adoram a Julianne mais ainda.
O Abutre – Entra como melhor roteiro original. Merecia mais. Acho o Jake Gyllenhall perfeito no filme. E a Rene Russo me impressionou demais.
Vício Inerente – Tem Thomas Pynchon como co-roteirista. Não vi ainda. Do que vi entre os roteiros adaptados, com o perdão da insistência, acho que os dois filmes sobre gênios ingleses eram difíceis, pela necessidade de síntese de situações complexas de personagens nada simplórios. Ok, Teoria de Tudo tem umas cafonices e O Jogo da Imitação torna aceitável uma história em si complexa de um personagem torturado, que se oculta todo o tempo.
Ainda não vi Ida. Tentarei amanhã: os horários estão horríveis.