Leio que o prefeito promete 50 salas de cinema numa lógica não comercial, em São Paulo, até 2016.
Não é a primeira vez que se faz essa promessa.
Dilma mesmo, quando foi para o primeiro mandato, prometeu salas de cinema aos montes no pais inteiro. Ao que eu saiba, estamos no zero até hoje.
50 salas é muito bom. Saber a quem caberá a administração e programação das salas, também. Não deve ser algo centralizado.
Se é assim que se vai fazer, seria interessante restaurar a lógica dos cineclubes: a reunião de apaixonados, puxando os outros.
Como no ano passado, fui a um cineclube bem modesto, bem simpático, animado pelo Thiago Mendonça, que também já se revelou um curta-metragista de talento.
Enfim, em 2016 vamos estar aqui, babando, para ver se era uma promessa só ou se de fato fazia sentido.
Pois o segundo esforço, além da constituição física das salas, me parece, será reensinar às pessoas o sentido das imagens fora das formulações da indústria cultural (ou mesmo nelas, quando dizem algo).
Rodolfo Nanni, que acaba de publicar seu livro de memórias, “Quase um Século”, é um dos homens mais elegantes que eu conheci.
Não digo no trajar-se (também é), mas no modo de ser: delicado, atento aos outros, despojado.
Seu livro ilustra também seus múltiplos talentos: de desenhista, pintor e cineasta. Talvez devesse ter se dedicado mais a uma dessas artes.Também cuidou de ter outros modos de sobreviver.
Seu “Quase um Século” tem aspectos únicos. Ser primo de Brecheret, ter privado dos principais poetas do modernismo, ter tido aulas de pintura com Anita Malfati, a passagem pelo Idhec em Paris, a convivência com Almeida Salles – são aspectos que aparecem no livro, entre tantos outros, e dão ideia da rica existência que tem sido a do autor de “O Saci”.
Mas, de tudo que li até agora (não cheguei ainda ao final), me interessou mais a sua viagem à Europa, atrás da namorada que o pai lhe tinha proibido de ver: muito estranho pensar nessa viagem que começava em São Paulo, passava por Natal, Dakar, Lisboa e Londres antes de chegar a Paris. Três dias estranhos por uma paixão: valeu.