Êxodos

Por Inácio Araujo

exodo2

Não sei bem o que Ridley Scott tinha na cabeça ao fazer o remake de “Os Dez Mandamentos”, mas é certo que buscou substituir a intervenção divina, relatada no livro do Êxodo, por causas naturais para uma série de fenômenos.

Assim, as sete pragas que afetaram o Egito começam com um ataque chocante (e indecente, pela explicitude), de crocodilos contra pescadores no Nilo.

Daí o rio cobrir-se de sangue. Nada a ver com Deus. Nada a ver com o célebre cajado com o qual Charlton Heston tocava as águas no filme de DeMille. Aliás, não há nem cajado: Moisés carrega consigo uma espada, inseparável.

As demais pragas seguem assim, motivadas pela natureza e suas decorrências. Ou quase isso. Na verdade há um moleque chato, que Scott identifica como o Deus bíblico.

Mesma coisa na hora da travessia do Mar Morto. O mar não se abre para a passagem do povo escolhido: ele apenas reflui, se retrai.

Quanto às tábuas da Lei, bem: elas não são outorgadas por Deus, é Moisés em pessoa que precisa talhá-las, enquanto discute com Deus.

Há bons momentos em “Êxodo: Deuses e Reis”, mas os maus momentos é que se impõem. A visão é meio fraca. A de DeMille derivava da Guerra Fria e de seu anticomunismo. Os egípcios eram os adoradores de ídolos, de falsos deuses, quer dizer, não reconheciam o Deus verdadeiro. Em outras palavras: eram comunas.

A questão de Scott é mais de justiça social. O que, aliás, leva Moisés a sugerir que transforme os escravos judeus em trabalhadores pagos, com carteira assinada e tudo mais.

Enfim, por vezes fica meio maluca a coisa, embora a postulação de Moisés não seja nada inatual, mas é frouxa, dada a dimensão do personagem e da história narrada.

Um filme bem fracote, em suma.