Uma formidável soma de coincidências me impediu, até outro dia, de ver “Interestelar”: viagem, topar com a sala cheia, ser chamado de emergência quando estava na porta do cinema etc.
Enfim, consegui. Primeiro, me surpreendeu o belo início do filme, o tratamento do tempo.
Aqueles depoimentos, logo de cara, nos remetem a um outro tempo, 1930 e à Depressão. Isso é o que evoca. Logo depois, estamos no futuro, mas só saberemos disso aos poucos, pois as casas, os carros, os hábitos, as plantações: nada procura se assemelhar a um futuro verossímil. Parecem coisas do presente. E de certa forma o são.
Achei que seria uma obra-prima, mas desde que começam as viagens espaciais o filme cai como um foguete. Primeiro, há uma soberba incrível, uma seriedade astronômica no tratamento da ideia de que o mundo deve ser salvo. Ou “a raça humana”, para usar as palavras de Anne Hathaway.
A viagem tem esse peso inconfundível, essa solenidade que só falta aos filmes de Christopher Nolan quando ele a substitui por uma tensão exagerada.
Ou seja: eu não sou muito fã do Christopher Nolan e, no meio do filme, queria pular fora dali com alegria. Não o fiz, felizmente: soube depois que havia uma tempestade lá fora.
Foi bom porque no final o filme de certo modo se reabilita: fecha as pontas do início e, sobretudo, resolve a questão do tempo relativo de maneira muito satisfatória, integrando-o de maneira conveniente à intriga.
Agora: temos um filme visceralmente antropocêntrico. Até os fantasmas somos nós!
Não somos mais apenas senhores da Terra. Mas do universo. Nós, na verdade, não: os americanos, que têm suas bandeiras fincadas em outras galáxias.