“Whiplash” ou o mundo da competição

Por Inácio Araujo

 

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Ainda não entendi se “Whiplash” capta ou se referenda um mal-estar contemporâneo que diz respeito a uma competitividade extrema, que já me parecia doentia quando restrita à área esportiva (doentia quando não mortal).

Lá temos um jovem baterista de talento e um professor que exige dele tudo e mais um pouco, justamente por saber que ele é talentoso.

Pior: o professor é desses que decidem do futuro de muitos jovens.

Primeira questão: existe um lado francamente sádico na atitude do professor?

Me parece que sim. Isso vai além de competitividades, como se sabe. O argumento dele é que se houvesse mais gente como Charlie Parker o jazz não estaria morrendo.

E, segundo ele, Parker uma vez foi publicamente humilhado e depois disso trabalhou como louco, jurando a si mesmo que nunca mais seria humilhado. E aí virou Charlie Parker.

Ok. Mas tenho para mim, embora não saiba da história do jazz a entrada nem a saída, que uma forma musical não depende de dedicação obsessiva e, sobretudo, de um contínuo sofrimento.

Não acho que o mundo deva ser como o de Mozart no filme do Milos Forman, quer dizer, um mundo do puro gênio contra o trabalho constante.

Há mais coisas entre o céu e a terra etc. e tal.

Agora, “Whiplash” é muito sintomático do mundo contemporâneo: pessoa contra pessoa. Luta e competição constantes. Será por acaso que esse tipo de luta brutal que agora passam na televisão faz tanto sucesso? E os jogos de exclusão, tipo BBB, não provocam prazer justamente por excluírem.

O universo simbólico setor TV estava já tomado por isso. O cinema está chegando.