Ainda não entendi se “Whiplash” capta ou se referenda um mal-estar contemporâneo que diz respeito a uma competitividade extrema, que já me parecia doentia quando restrita à área esportiva (doentia quando não mortal).
Lá temos um jovem baterista de talento e um professor que exige dele tudo e mais um pouco, justamente por saber que ele é talentoso.
Pior: o professor é desses que decidem do futuro de muitos jovens.
Primeira questão: existe um lado francamente sádico na atitude do professor?
Me parece que sim. Isso vai além de competitividades, como se sabe. O argumento dele é que se houvesse mais gente como Charlie Parker o jazz não estaria morrendo.
E, segundo ele, Parker uma vez foi publicamente humilhado e depois disso trabalhou como louco, jurando a si mesmo que nunca mais seria humilhado. E aí virou Charlie Parker.
Ok. Mas tenho para mim, embora não saiba da história do jazz a entrada nem a saída, que uma forma musical não depende de dedicação obsessiva e, sobretudo, de um contínuo sofrimento.
Não acho que o mundo deva ser como o de Mozart no filme do Milos Forman, quer dizer, um mundo do puro gênio contra o trabalho constante.
Há mais coisas entre o céu e a terra etc. e tal.
Agora, “Whiplash” é muito sintomático do mundo contemporâneo: pessoa contra pessoa. Luta e competição constantes. Será por acaso que esse tipo de luta brutal que agora passam na televisão faz tanto sucesso? E os jogos de exclusão, tipo BBB, não provocam prazer justamente por excluírem.
O universo simbólico setor TV estava já tomado por isso. O cinema está chegando.