A Arte da Desconexão

Por Inácio Araujo

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Desculpem o atraso, mas “O Ciúme” não me sai da cabeça.

Por alguns motivos, como essa fotografia branco e preto, uma das mais belas dos últimos anos.

Depois, porque na porta do Reserva Cultural afixaram uma crítica do Ruy Gardnier, no Globo. E há muito tempo eu não lia nada novo do Ruy sobre cinema, o que me encanta sempre.

Por fim, o filme. Philippe Garrel trabalha a montagem de maneira muito original. Ele produz como que “desatrações”. A montagem normalmente conecta coisas e, sobretudo, pessoas. Garrel trabalha-a para romper com essa aproximação.

Isso se vê na primeira cena. Pela fechadura, uma criança vê a mãe pedir ao pai para não ir.

Depois o vemos já fora, longe, com outra mulher.

Todo o filme é assim. Não existem simetrias. O homem é um ator. A mulher abandonou a carreira para ajudá-lo na dele. Ele a abandonou para ficar com outra atriz. E assim sucessivamente. São peças que não se encaixam, e que o filme lindamente preserva em sua integridade, sem fazer da ligação entre elas o seu ponto.

Trata-se de um dos filmes mais interessantes, mais originais dos últimos tempos.

Sei que já passou, que já deve estar no DVD, mas o vi tardiamente, e não queria deixar de dizer essas coisas.

Bom 2015 a todos