Desculpem o atraso, mas “O Ciúme” não me sai da cabeça.
Por alguns motivos, como essa fotografia branco e preto, uma das mais belas dos últimos anos.
Depois, porque na porta do Reserva Cultural afixaram uma crítica do Ruy Gardnier, no Globo. E há muito tempo eu não lia nada novo do Ruy sobre cinema, o que me encanta sempre.
Por fim, o filme. Philippe Garrel trabalha a montagem de maneira muito original. Ele produz como que “desatrações”. A montagem normalmente conecta coisas e, sobretudo, pessoas. Garrel trabalha-a para romper com essa aproximação.
Isso se vê na primeira cena. Pela fechadura, uma criança vê a mãe pedir ao pai para não ir.
Depois o vemos já fora, longe, com outra mulher.
Todo o filme é assim. Não existem simetrias. O homem é um ator. A mulher abandonou a carreira para ajudá-lo na dele. Ele a abandonou para ficar com outra atriz. E assim sucessivamente. São peças que não se encaixam, e que o filme lindamente preserva em sua integridade, sem fazer da ligação entre elas o seu ponto.
Trata-se de um dos filmes mais interessantes, mais originais dos últimos tempos.
Sei que já passou, que já deve estar no DVD, mas o vi tardiamente, e não queria deixar de dizer essas coisas.
Bom 2015 a todos