Há coisas desatinadas no que tenho lido e ouvido.
A versão mais corrente, de que foi “um ataque à liberdade de imprensa” me parece pura ideologia.
Foi um ataque contra o Charlie Hebdo. Não lhes tiremos isso. Foi contra as charges referentes a Maomé, ao que julgam ser um insulto ao profeta.
Ninguém reivindicou nada contra a imprensa livre, com exceção de nós, os jornalistas.
Houve atentados muito mais claros contra esse direito que não mobilizaram tal unanimidade. Há também as teorias conspiratórias.
Li em Luciano Martins da Costa.
Ele arrola uma série de motivos para o que chama de um “mau filme”. Como, por exemplo, um dos rapazes perder o documento de identidade dentro do carro de fuga.
Não me parece absurdo. Se não houvesse erros, nunca se acharia criminoso algum, isso está claro.
No fim, sua argumentação resvala para os célebres interesses americanos no Golfo do Iêmen, petróleo, etc.
Não entendo nada, mas para mim isso não tem pé nem cabeça. Os americanos estão escaldados de intervenções que dão em águas de barrela.
Mas algo é relevante no que ele escreve. Era o primeiro dia dos Soldes. A cidade fica agitadíssima. Não dá para entender como, num ponto central, uns caras param o carro no meio da rua, ficam cinco minutos fora (segundo a senhora que abriu a porta do jornal), voltam e… não há um buzinação atrás do carro, não há uma fila de carros, não há nem um mísero carro atrás deles.
Não é um mau filme, de jeito nenhum.
Nossos correspondentes fazem o de sempre: vendem a versão da polícia como a verdade. É moleza, assim.
Com terroristas do outro lado, fica ainda mais fácil: são uns idiotas de modo geral.
Mas há mistérios nessa história.
Por exemplo: o cara que estava no supermercado judaico não foi morto, foi claramente assassinado pela polícia francesa (que, ninguém se iluda, é violentíssima). Isso foi filmado, ele está saindo quase agachado. Seria um cara importante, com dados relevantes, no mínimo, a fornecer, a informar.
Ser executado não quer dizer necessariamente que seja “queima de arquivo”. A polícia francesa é tão cretina quanto qualquer outra. Mas há muito mais a explicar e a entender do que parece à primeira vista.