Um amante da simetria

Por Inácio Araujo

É estranha, a entrevista na Folha de um cara de organização internacional de direitos humanos, pedindo que investigações e justiça da Comissão da Verdade brasileira abarquem “os dois lados”. A horas tantas, o cara diz que condenações devem pesar sobre ambos.

Digamos que tenha existido uma perfeita simetria criminal entre guerrilheiros e torturadores.

O fato é que não se tem conhecimento de um só torturador que tenha sido condenado.

Quanto aos guerrilheiros, ou terroristas, como prefere o tal cara, onde estão os que não cumpriram pena? Houve os que foram torturados e mortos. Os que foram condenados após tortura. Os que foram torturados e expatriados, e tornados apátridas, após saírem do país por via de sequestro.

Até onde sei o que houve de mais leve foi a expatriação, o exílio, a perda de nacionalidade.

Quanto a outros, o que pretende o cara? Bem, Lamarca comprovadamente matou gente e fez assaltos a bancos. O que vamos fazer? Pegar seu corpo e enchê-lo de balas outra vez?

E os que foram condenados na justiça da ditadura devem ser rejulgados e recondenados na justiça democrática?

Afinal, o que há com esse cara? Andou batendo papo com o Lobão?

Outros criminosos

Por esse tipo de critério, e para não ir longe, teremos de re-julgar, lado a lado, os nazistas e os resistentes dos vários países europeus durante a segunda guerra (aliás, eram chamados de terroristas também), além, claro, dos resistentes do Gueto de Varsóvia, por terem assassinato os inocentes soldados nazistas.

Sem falar, claro, de uma pancada de primeiros ministros israelenses, que lutaram contra os ingleses antes que Israel virasse um país de pleno direito, que soltavam suas bombas, que se notabilizaram como terroristas.

E chega de exemplos evidentes, que não há porque gastar mais vela com mau defunto.