Dos filmes vou falar em seguida. Mas o melhor da Mostra é reencontrar amigos. Alguns que a gente não vê há muito tempo. É uma festa, e lá estão o Juliano Tosi, que eu não via há tempos, o César Zamberlan, que eu quase não reconheci porque botou uma barba enorme, daquelas que dá vontade de puxar pra ver se é de verdade, e outros que nem vou mencionar para não correr o risco de esquecer alguém (e vou esquecer muitos).
Mas senti falta mesmo foi dos amigos cariocas que vinham aqui no passado: o Ruy Gardnier, o Valente, o Junior (o Junior vinha?), o Daniel Caetano, ou mesmo paulistas como o Cléber, que virou professor, porque professores é difícil encontrar: eles estão dando aula ou escrevendo artigos que nem malucos para satisfazer essas agências com exigências demenciais, que só servem para criar ciência vagabunda.
Esses caras um dia me chamaram para votar no júri da crítica independente. Uma coisa bem improvisada. Tão improvisada que a votação aconteceu num boteco na Augusta, perto do CineSesc. Eles tomavam cerveja. Eu pedi uma caipirinha, que certamente foi uma das duas piores que tomei na vida.
Só perdia, em ruindade, para uma que tomei no quiosque do seu Chico, numa praia de Floripa. Aquilo parecia feito com dinamite.
Dos filmes, vamos tirar fora as retrospectivas (o Victor Erice é um grande).
Gostei muito, muitíssimo, do “Foxcatcher”, de Bennett Miller: uma direção de atores exemplar, mas também uma maneira paciente, calma, de contar uma história, coisa que vai ficando rara no cinema americano.
Leviatã: não me entendo muito bem com os russos. Eles sempre têm imagens belíssimas, mas algo me escapa, na conexão entre religião, Estado, ex-Estado, máfias, igreja etc. Digamos que a única coisa que não me escapa, ou não me parece muito óbvia, é a paisagem e a luz, que são extraordinárias.
Força Maior – Não é nenhum prodígio, mas é um bom filme, um bom firme filme em que uma avalanche desencadeia uma crise conjugal do tamanho de uma avalanche.
O Pequeno Quinquin, de Bruno Dumont, tem esse Bruno Dumont que lembra o Bresson, mas também um Dumont que lembra o “Twin Peaks”, mas acho que triunfa mesmo um Dumont que lembra o Dumont, quer dizer, a vida de uma pequena aldeia francesa é atravessada por uma perversidade que está no rosto dos personagens, mas a gente não sabe bem de onde vem. E tem também um lado comédia, que vem da dupla de policiais que investiga os crimes. O que mais me chamou a atenção, no entanto, foram certos locais, a maneira dos crimes. A história da vaca que teria subido num lugar impossível para morrer (é onde tudo começa). O filme tem força, sim, embora não me pareça aquela coisa que os Cahiers botaram nas nuvens.
Por enquanto é isso.
Lamento apenas ter visto As Flores de Taipei, levado pelo nome. É um documentário besta, tipo levanta a bola, sobre o cinema de Taiwan desde, mais ou menos, os anos 1980. A esquecer.
Por falar nisso acho que esqueço algo, para o bem ou para o mal.
Ah, sim, claro, os 19 minutos de “O Velho do Restelo” valem por vários longas.
Deixa eu correr! Abraço aos amigos que ainda não encontrei, mas encontrarei.