Um post pós-eleitoral

Por Inácio Araujo

 

cena do filme O Último  Hurrah, de John Ford
cena do filme O Último Hurrah, de John Ford

Tiririca

Certos votos me parece que vão para a pura simpatia que o personagem possa inspirar.

Não é mais o voto de protesto da outra vez, mas ele foi muito votado.

Isso me fez lembrar minha avó, que todo ano comprava o carnê do Baú da Felicidade.

E todo ano os netos tentavam mostrar que aquilo era uma embromação, porque ela pagava agora e só recebia a mercadoria no final, quando ela valia vinte vezes menos (era no tempo da inflação desbragada).

Ela não dava a menor bola para tentativas de chamá-la à razão:

– É pra ajudar o Silvio, dizia.

O Silvio Santos. Que já era um magnata na época.

Talvez ela esteja certa.

O Palhaço

No horário eleitoral, Tiririca vinha e fazia um show.

O show vale o voto.

Talvez ele já tenha dado ali, a muita gente, mais do que muitos deputados.

O Último Hurrah

Certas derrotas eleitorais me lembraram do filme de John Ford sobre o político que disputa a última eleição: Eduardo Suplicy, Pedro Simon.

Mas pode ser só impressão, só o amargor do John Ford.

O Serra, que todo mundo achava que tinha se aposentado está aí, senador por São Paulo.

Não queríamos renovação?

É o modo de São Paulo renovar, afinal.

Barbosa

E Joaquim Barbosa? De repente, ninguém fala mais de Joaquim Barbosa. Muita gente o queria para presidente.

Ele pulou fora do Supremo. Sobretudo pela história do mensalão, foi amado por uns e odiado por outros.

Agora, a OAB não quer que seja advogado porque foi desaforado com advogados quando estava no Supremo.

Minha opinião: acho que muito do que o tornou esse personagem polêmico se deve à dor nas costas. Penas por vezes inclementes, desaforo com jornalistas, advogados etc. não se devem a falta de educação ou coisa assim.

Gente com dor constante sofre de mau humor decorrente da dor.

Houve quem confundisse essa dor com combate implacável ao PT (e o aplaudiam por isso) ou com combate implacável ao PT (e o detestavam por isso).

Não acredito em nada disso. Sua dor crônica, e o decorrente humor, tinha uma vantagem incontestável: livra a Corte do jurisdiquês também crônico.

PC do B

O genial não é que o candidato do PC do B tenha ganho a eleição de governador no Maranhão.

O genial é que o adversário advertisse que ele iria implantar o comunismo no Maranhão.

Como seria isso?