Notícias de Nova York

Por Inácio Araujo

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Há bastante gente considerando “Era uma Vez em Nova York” um dos melhores filmes do ano.

Não é impossível que seja. Mas é preciso lembrar que o ano é pra lá de fraco.

O Eduardo Aguilar falou, do filme anterior do James Gray, que era bom, mas não tinha nada de novo.

Ok. Eu gostei mais desse filme anterior dele, “Amantes” (Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw): a ambientação contemporânea é mais verdadeira, mais forte. Mesmo para efeitos de melodrama, o contemporâneo nos diz mais. O passado nos desvia do assunto (várias vezes eu pensava: haveria mesmo tal intensidade de sentimentos?; a prostituição tinha esse peso na vida das pessoas?; etc.), um pouco ao menos.

A produção acaba dedicando um cuidado excessivo aos detalhes de época. Eles sobressaem no todo, não é um aspecto forte.

Desta vez mesmo alguns diálogos me irritaram bem, me pareceram horrivelmente piegas. Mas passemos: era preciso comover.

Se o Aguilar não viu nada de novo no “Amantes”, aqui veria ainda menos, portanto.

A mulher (a Cotillard) hesita entre dois homens: o bonzinho e o malvado.

Mas por trás de tudo há a irmã, que está na quarentena.

A mulher (Cotillard) é um rosário de culpas. Alias, ela as consegue transferir ao vilão, que escuta sua confissão a horas tantas.

Todo mundo culpado. Uma choradeira ferrada.

Mas, afinal, temos aí também um filme sobre o feminino, sua fragilidade (meio que o contrário de “Amantes”, onde a fragilidade era sobretudo masculina).

E sobre a redenção.

Uma bela direção de atores, sem dúvida. Embora eu não goste muito dessa cara de coitada da Cotillard. Prefiro quando se apaixona ou ao menos se compadece dos outros. Essa pena de si mesma enfática demais me pareceu meio irritante.

Agora, o plano de abertura, com a Estátua da Liberdade, e o final, aquela espécie de split screen, com o barco saindo livre e a outra metade do quadro ficando na prisão, que coisas bonitas, talentosas. E originais, sem dúvida.