Até agora eu admirava o goleiro do Santos como goleiro.
Há dias tornou-se vítima de racismo e esbravejou, gritou, denunciou.
O mais admirável, no entanto, veio agora: a menina pilhada pela TV xingando o goleiro de “macaco”, e devidamente massacrada por conta disso, disse que é boa gente, que não é racista, que gritou porque foi na onda da torcida.
Depois declarou-se arrependida. A mídia chorou junto com ela, comovida. A menina então achou que pedindo perdão e encontrando-se com o goleiro estava tudo bem.
Aranha a princípio disse que não queria perdoar ninguém.
Depois, com a pressão da mídia, leio que perdoa sim, mas não conhece a garota, nem quer conhecer, portanto não há pé nem cabeça nesse encontro.
(Ah, faria a alegria da mídia isso… Um chorando nos braços do outro… O racismo diluído… O espetáculo… E, por que não, logo a garota podia se tornar celebridade e ter um programa vagabundo na TV).
Vamos por partes.
1. Houve racismo, por mais que se pretenda diluir a coisa.
Houve racismo porque há racismo. Ponto. Qualquer um sabe disso.
2. A menina é, como hábito brasileiro, uma irresponsável convicta. Uma anti-sartreana clássica.
Ou seja, entende que não tem responsabilidade pelos atos que pratica: eles são força do hábito, vão na onda da torcida, etc.
No Brasil pedimos responsabilidade dos políticos. Nós podemos ser isso aí.
3.Feita a besteira, somos bons católicos: achamos que pedindo perdão com bastante força e jurando arrependimento tudo se resolve.
4. Alguém da mídia, que tão estrondosamente proclamou o perdão chegou a perguntar à moça se ela estaria igualmente arrependida caso não tivesse sido pega no flagra?
5. Viva Aranha! Ele não cai fácil no drible dos adversários, nem no gosto dos repórteres pelo lugar-comum. Seleção nele.