Mais uma decepção este ano: “O Mercado de Notícias”.
Digo isso porque o jornalismo é um assunto caro ao Jorge Furtado e o Jorge Furtado é um cineasta inteligente e talentoso.
E já mostrou em várias ocasiões (por escrito, em geral) que não bota a menor fé no que vê publicado, a maior parte das vezes.
Porém, o jornalismo é assunto de enorme complexidade. Discuti-lo impllica discutir desde a idéia de objetividade até a construção da verdade pela narrativa escrita. A honestidade dos veículos de informação assim como a idéia de informação. Os erros, brutais, vergonhosos ou criminosos. Os acontecimentos e a visão dos acontecimentos, inclusive a possibilidade de adulteração deles ou a decantação dos eventos ao longo do tempo e a hipótese de uma nova compreensão se impor (caso de Euclides da Cunha em relação a Canudos especificamente).
Mais detidamente, pode-se pensar no jornalismo como negócio capitalista.
E, mais especificamente, no comportamento da imprensa brasileira em relação aos governos do PT.
Pela simples enumeração já se vê que daqui pode sair uma bela série de TV sobre o assunto.
E teria sido melhor assim. Não discuto a inserção de uma peça elizabetana em que, para ser bem franco, vi relação muito, mas muito distante com tudo isso que enumerei acima. Mas é o de menos.
Minha decepção com o filme vem, justamente, com o pula-pula de um jornalista a outro, de um assunto a outro, sem que nenhum seja esgotado, às vezes sem que não seja nem proposto direito.
Assim, grandes assuntos (Escola Base) são praticamente perdidos, o que é uma pena. A polícia acabou pagando o pato (porque os jornais é que dizem quem é o culpado final), mas a responsabilidade da imprensa foi enorme e seu trabalho foi vital para que a desgraça completa acontecesse.
(Pela atuação no caso em si, mas será um dia o caso de perguntar até que ponto a nossa atual cultura da vingança não tem relação profunda com a mídia).
Há momentos geniais (o caso do suposto Picasso do INPS é muito bem levado).
Se o tema é oportuno e o autor possui estofo para realizá-lo, a duração limitada de um filme acaba levando sobretudo à frustração do espectador (minha em todo caso).
Um deles: a relação entre Janio de Freitas e o personagem jornalista de “Terra em Transe” certamente é assunto a ser explorado obrigatoriamente. Aqui, no entanto, fica ao mesmo tempo truncado, lateral em relação ao tema proposto e, para quem não conhece a relação, praticamente incompreensível.
O aspecto mais certo do trabalho de Jorge Furtado, aqui, é a pertinência de abordar a mídia. Uma série seria a maneira mais produtiva, com o tempo mais livre. Ao menos é o que me pareceu.
Sem dó nem piedade
Ao mesmo tempo, anuncia-se já, vem aí um documentário mais que interessante sobre o Brasil, seu sistema penal, suas injustiças, a impiedade com que os pobres são tratados e, por extensão, os prisioneiros: “Sem Pena”, do Eugênio Puppo, será um filme a ver, sem dúvida.