Tudo bem que o dr. Abdelmassih seja preso.
Mas esse fato policial não me interessa além disso que ele é.
O espantoso é como o espírito de polícia disseminou-se na população. Talvez mais aqui em São Paulo do que no resto do mundo, mas tenho a impressão de que o mundo também não vai lá muito bem.
Pois bem: ao chegar ao São Paulo, preso, ele foi recebido com esses gritos vingativos agora habituais: safado, bandido, maníaco.
Bem, um cara que, tendo o poder médico na mão, tendo as clientes em estado de total dependência, estupra uma quantidade absurda delas… A palavra maníaco talvez não seja tão inexata.
Mas não existe aí nenhuma tentativa de compreender a patologia envolvendo o médico.
Bata-nos recitar que é um monstro. Fim.
Estamos nos domínios da psiquiatria do século 19, mais ou menos.
Tudo que importa é punir. “Tem que ser punido” como dizia um ex-juiz de futebol comentando arbitragens (juízes de futebol são, com muita freqüência, uma expressão avançado do policialismo).
Como eu disse, não creio que o mundo esteja muito melhor.
Mas o Brasil é particular na estupidez: não nos basta ter uma população carcerária oceânica. Queremos sempre mais presos, por mais tempo.
Como se isso acabasse com a criminalidade!
Mas, quanto mais se prende, mais crimes acontecem.
Parece claro que algo não bate nessa conta.
Mas, que importa: enquanto der para chamar o outro de maníaco, para agredi-lo… tudo bem.
Ah, Freud, ah Rimbaud, quel âme est sans défauts?
Esses que gritavam será que não gostariam de estar no lugar desse estuprador até ontem impune?