Passei pela “Sessão de Terapia”. Por quanto tempo? Dois minutos, um minuto, trinta segundos? Não importa: bastou pouquíssimo tempo para que eu não conseguisse compreender, nem de longe, porque esse programa ganhou um segundo ano de existência.
Não sei como a coisa acontece no resto do mundo. Aqui temos um terapeuta com cara de quem sabe tudo (o que está ok: é com essa cara que, não raro, costumam nos receber os sujeitos supostos saber), em um lado.
Do outro, um sujeito contará seus dramas. Ou por outra: um ator imitará o melhor possível o drama que alguém colocou no papel.
O melhor possível, quer dizer: imitará sentimentos à maneira dos atores da Globo, das novelas da Globo, e dos filmes nacionais “para grande público”.
É uma coisa lamentável, porque o rapaz, no caso, começava a desfiar seu drama, a pedido do terapeuta. Ele olha para baixo, meio que acabrunhado, como supõe-se que um cliente deve estar, pois falará de sua intimidade. Ele faz todos os gestos que nas novelas caracterizam os momentos confessionais.
E começa: “eu tenho uma namorada…” E a voz soa como a repetição mofada de mil e uma palavras escritas num papel já amarelado.
Fim. Não sei qual é o drama do cara com a namorada. Não agüentei ver aquela situação constrangedora.
E no entanto, pensei, seria perfeitamente possível fazer um programa decente com aquilo. Seria possível encontrar um ator que tivesse um problema semelhante ao do personagem (e não apenas fingisse ter um problema). Ou convencer um ator de que ele tinha um problema parecido. E em seguida deixar que improvisasse à vontade…
Enfim, não há análise, freudiana, junguiana, lacaniana, kleiniana ou qual seja implicada ali. A terapia é globaliana: repetir sempre, retornar ao mesmo sempre, eis o que pode solucionar o problema, o único que realmente conta, no caso, o da audiência.